Lua Algol quadrada a Saturno em Aquário
Poderosa Deusa Atena,
Rogo-te, novamente, que me ouça: fui violada pelo Deus dos mares e, por isso, tu me deste punição. E, como se não fosse castigo suficiente, ouvir o sibilar de serpentes ininterruptamente em meus ouvidos, como se não bastasse a aparência monstruosa que me deste e este olhar que petrifica, como se isso só já não bastasse, guiaste Perseu até minha morada para que este, com sua espada, me arrancasse a cabeça e a vida.
Desde então, colocada em teu escudo, sirvo-te, protegendo-te. Assim como protejo também, as cidades cujos muros possuem réplicas da minha face horrenda, com o intuito de afastar os forasteiros.
Tenho cumprido bem os meus papéis, tanto de escudo como de guardiã do limiar, alertando os viajantes que não ultrapassem os limites.
O problema, minha Deusa, é que existem outras de mim.
Outras, que têm os seus limites desrespeitados cotidianamente; que, todos os dias, sofrem as mesmas injustiças que eu sofri e têm suas cabeças cortadas, simplesmente por ousarem existir; que são mortas diariamente, a cada vez que têm seus direitos negados, a cada vez que são invisibilizadas.
As outras de mim estão exaustas. Mas levantam-se, todos os dias, porque os filhos têm que ir para a escola, porque precisam colocar comida na mesa, porque têm contra si os dedos apontados, porque são proibidas do descanso e já não têm forças de pedir por justiça.
Ouça, minha Deusa, quantas vezes teremos que morrer para sermos ouvidas?
Medusa