São Paulo, 28 de Fevereiro de 2023

Lua em conjunção a Marte

Amigaaaaaaa,

Socorro, estou chegando da balada agora. Resolvi sair com o gatinho que conheci no posto de gasolina aquele dia, lembra? O soldado? Então, eu falei que queria dançar, ele disse que não curtia muito, aí, fomos pra um barzinho e o papo estava ótimo. Super sintonia, falamos de tudo que você possa imaginar: cinema, política, futebol, filhos… Uma delícia conversar com ele. Pensando aqui que, talvez, o meu nível de exigência estivesse um pouco mais baixo ontem, porque né, ele falava e eu só olhava para aqueles braços fortes, aquele abdominal… Ai, amiga, aquele abdominal… E ele estava com uma camiseta mais certinha no corpo, não justa, mas dava pra ver as curvinhas. Ele parecia tão inteligente, mesmo falando de crossfit, ai, ai…

E a conversa foi rendendo, rendendo… Aí, ele me chamou pra terminar a noite na casa dele. Eu fui, né? Não me arrumei toda à toa, hahaha. 

Aí, a gente chegou, eu sentei no sofá e ele sentou na poltrona, do outro lado. Achei estranho, né? Aí, pegou um violão e começou a tocar. E eu ok, uma música pra quebrar o gelo, pensei. E tocou, e tocou, e tocou… e eu bocejei. Aí ele falou: ah, você está ficando cansada, o que acha da gente ir para o quarto? Eu já me animei de novo. Aí, a gente tava lá, uns beijos aqui, tira a roupa dali, ele me joga na cama, vem com aquele corpão pra cima de mim e… dorme! Amiga, ele dormiu! Ele dormiu! DOR – MIU, de roncar! Você acredita? Eu me vesti, peguei minhas coisas e voltei pra casa. Ele nem se mexeu. E, agora, eu tô aqui, rindo sozinha. Precisava contar isso pra alguém, nem que fosse por uma carta. Mais tarde vou aí, pra gente conversar.

Agora vou dormir, amiga. Sozinha.

Bjs

Fran

São Paulo, 25 de Fevereiro de 2023

Lua em Touro quadra Mercúrio em Aquário

Caro Hermes, como vai?

Espero que seu dia esteja agradável, visto que não posso dizer o mesmo do meu, que começou daquele jeito. Imagine que eu estava passeando, distraída, tranquila, pelas terras da minha exaltação, sentindo-me segura, portanto, e, não sei como, tropecei e caí rolando em direção ao rio que corria paralelo à estrada. Só consegui pensar que não estava pronta para um banho gelado logo pela manhã. Porém,o estrago foi pior do que pensei: ao cair no rio, me deparei com a bocarra de Cetus vindo em minha direção. Fui engolida, claro, e foi muito difícil me desvencilhar do monstro. 

Quando o dia começa assim, a gente já sabe que era melhor nem ter saído de casa. Pois era o meu caso, porque a história piora, e muito: meu dia começou com Menkar, a boca da baleia, e vai terminar sabe como? Com Algol, a cabeça da Medusa. Isso significa que, no fim dessa história e desse dia, eu perco a cabeça. 

Agora, pergunto: que tipo de exaltação bizarra é essa, em que a pessoa que cumpre um itinerário mensal, deve encarar esses monstros todas as vezes?

Não se preocupe em responder, a pergunta é retórica. Sei bem que você nem liga. Está em posição heliacal, não é mesmo? Se sentindo todo importante por puxar a carruagem do Rei, por estar numa posição privilegiada, dando as ordens do dia.  Vai deixar Faetonte com ciúmes, só digo isso. 

No entanto, não é para contar sobre as minhas desventuras que escrevo, mas, sim, para avisar que, muito a contragosto, nos encontraremos mais tarde. Em vista disso, gostaria de sugerir, respeitosamente, que o amigo não se ponha no meu caminho. Estou um pouco irritada de ter que dar conta de dois monstros no mesmo dia e não me custa dar conta de três. 

Atenciosamente,

Lua

São Paulo, 22 de Fevereiro de 2023

Mercúrio em Aquário em trígono com Marte em Gêmeos

Hermes, meu Comandante,

Aguardo ansiosamente pelas diretrizes da nova lunação. Já deixei o antigo posto no exílio e me acomodei na casa dos jogos, onde espero vencer todas as batalhas. Em seu nome, claro. 

Como estou sob as suas regras e os termos em que me encontro são de Vênus, temo que essas batalhas não sejam tão sangrentas, como é de meu agrado. Contudo, me empenharei para oferecer o meu melhor (ou meu pior, dependendo do ponto de vista), como sempre.

Informo que a Lua entrou em contato comigo ontem, cheia de nhê-nhê-nhê, que isso, que aquilo, não faço idéia do que me disse. Sei muito bem que ela saiu de um encontro com o Sol e que, provavelmente, me trazia algum recado, mas essa coisa de guerrear com as palavras é bem cansativo e, confesso, não lhe dei ouvidos. 

Aproveito para informar, também, que já dei entrada nos documentos necessários para as tratativas da terceira e da décima pasta. Nesta lunação, estes assuntos serão encaminhados para serem resolvidos aqui, no gabinete cinco, onde tratarei pessoalmente dessas questões.

Ah, uma última informação: não sei onde deixei a caneta bic que estava usando para assinar os documentos e escrever as atas. Espero que não se importe, mas tudo o que tenho escrito e assinado, ultimamente, tem sido no estilete.

Atenciosamente,

Seu servo, Marte

São Paulo, 19 de Fevereiro de 2023

Mercúrio, Lua e Saturno em Aquário

Ganimedes, meu querido,

Como vai? Estou precisando dos seus serviços de copeiro. Resolvi, de última hora, fazer uma festa de despedida para Saturno, visto que não o veremos mais neste signo pelos próximos vinte e sete anos. Acho que é uma data a ser comemorada, não acha? Digo, não exatamente comemorada, não quero parecer feliz por ele perder dignidade. Falo comemoração no sentido de que é um feito bastante corajoso ficar tanto tempo longe de casa, você me entende? Embora eu saiba de muita gente que realmente irá comemorar no sentido de comemoração mesmo. Mas aí, né, não posso controlar o que os outros pensam de ninguém, ainda mais se for alguém de poucos amigos, ranzinza, esquisito, dado a términos definitivos, frio, insensível, inconveniente, arrogante, antissocial… 

E, aqui, não me refiro a ninguém em especial, só citei alguns exemplos de comportamentos que certamente dificultam a convivência.

Enfim, será que você pode me arrumar um salão de festas aí do Olimpo que esteja ocioso e providenciar também as bebidas? Será uma festa íntima, para poucos amigos. Hermes já confirmou presença. Eu ia chamar o Sol também, mas foi só eu chegar aqui ontem, que ele saiu de fininho. Fiquei com a sensação de que estava me evitando. Mas, isso, resolvo mais tarde.  Agora, preciso que você providencie os itens da lista que segue em anexo. 

Quem sabe o velhinho se anima e se apressa um pouco para arrumar as malas. Não vejo nenhum movimento dele nesse sentido.

Qualquer dúvida, pode me procurar. Estarei por aqui.

Agradeço imensamente o seu apoio, meu amigo.

Da amiga,

Lua

Em algum lugar inóspito, 16 de fevereiro de 2023

Lua em Capricórnio

Escrevo para dizer que cheguei após alguns contratempos: peguei o trem errado na estação e fui para um lugar mais além. Tive que fazer o caminho inverso e, com isso, perdi um tempo precioso.

Aqui, sou estrangeira. Não falam a minha língua e sequer se esforçam para me entender. A comunicação está muito difícil. Estou hospedada em um velho chalé que parece estar em pé por pura teimosia, à revelia do tempo. Às margens da estrada, do nada, do pó, só tenho a companhia das cabras que avisto, ao longe, nas montanhas pedregosas. São fortes e determinadas, as cabras.

Agora, amanheceu. Não consegui dormir. O chão duro é mais confortável do que a cama. A água do banho é pouca e fria e o café que tomo enquanto escrevo tem sabor de amargura. 

Para as refeições, encontrei raízes, talos e um pão sem miolo. Provavelmente, é o melhor que podem me oferecer. Tudo aqui é seco e escasso, opaco e triste. Observo as cabras batendo o casco contra o chão em busca de raízes. São valentes, as cabras. Penso que a vida insiste, ainda, por causa delas. Porque elas resistem, às turras, por birra ou por capricho. E a vida não tem escolha diante de tal obstinação, a não ser vingar.

Durante o dia, elas sobem a montanha de paredes indecentes, de tão íngremes; sobem contrariando todas as probabilidades. Mas, quando a noite chega e o céu se veste do brilho profundo das constelações, é que se entende a determinação das cabras: é que ali, no topo da montanha, elas podem tocar as estrelas.

E.

São Paulo, 13 de Fevereiro de 2023.

Lua em quadratura com o Sol

Amada neta,

Meus ossos já não são tão fortes e meu corpo já não é tão ágil como eu gostaria. Os dias passam em câmera lenta e as lembranças sobrepõem-se umas às outras num looping infinito. A experiência é um peso que nos curva as costas e enfraquece os joelhos.

Sinto a desaceleração da vida a cada dia e no fim há a morte.

Mas a morte não é o fim. A morte é somente a devolução da matéria à sua origem. Matéria esta que será reciclada no ventre do mundo e animará uma nova existência. Assim, a vida se repete e ao mesmo tempo se diferencia.

Porém, não se engane, minha querida, imaginando que o fim está distante. O ciclo de vida-morte-vida acontece a tudo, a todos e o tempo inteiro. Eu mesma já morri em vida mais vezes do que posso contar. A própria Lua que nos observa do céu, cumpre este mesmo destino a cada mês. E a cada vez que renascemos, voltamos mais sábias. 

O recolhimento é necessário para que os saberes sejam assentados. Pois a experiência é a única coisa que levaremos conosco.

Antes de partir, quero deixar este conselho: tudo tem seu tempo e o tempo precisa ser respeitado. Procure entender qual é o seu, meu bem, ouça seu corpo, respeite seu ritmo, guarde os saberes. Assim, viverá uma boa vida e honrará a todas que vieram antes de você.

Da sua bisa, que te ama mais do que tudo,

O.

São Paulo, 10 de Fevereiro de 2023

Lua na via combusta

Martinho, querido,

Como vai? Quero dizer que demorei um pouco para me recuperar do susto de outro dia. Continuo achando que não precisava usar de todo o aparato real só para me encontrar, mas ok, já superei. 

Hoje, escrevo porque preciso de um favor: estou indo em direção àquela zona infernal da Libra ao Escorpião, conhecida como via combusta. Da última vez em que estive por lá, saí com meus pés queimados e minha pele toda ressecada. Como estou perdendo minha luz dia a dia, sinto que a passagem, desta vez, será particularmente difícil. O ideal seria evitá-la, mas não será possível. Os assuntos que tenho a tratar são urgentes. Então, estive pensando se você não poderia me emprestar uma das suas armaduras, de preferência uma que seja bem resistente ao calor e não seja muito pesada pois, como disse, minhas forças estão diminuindo. Eu vi você uma vez com uma brilhante, toda tecnológica e que parecia bem prática, além de estilosa. Este modelo é bom para a travessia do deserto escaldante? Pretendo fazer uma parada rápida no oásis de Spica e seguir viagem em seguida, então, ela também precisa ser confortável.

Se você quiser, posso deixá-la com o Rei assim que o encontrar ou, mais adiante, com o Centauro (se vocês estiverem se falando), como você preferir.

Agradeço, de antemão, a sua generosidade e aguardo suas instruções.

Da sua amiga, apesar de tudo,

Lua

São Paulo, 07 de Fevereiro de 2023

Lua entre os maléficos

Caro amigo Mercúrio,

Envio esse “psicopombo correio” na esperança de que ele o encontre. Estou perdida em suas terras. Creio que fui encurralada e, neste momento, temo por minha vida.

Como você sabe, há dois dias, promovi uma festa incrível e sem precedentes. O sucesso foi estrondoso. Aliás, senti sua falta. Espero que não tenha ficado zangado com a carta que enviei anteriormente. Você entendeu que era brincadeira, não é?  Quem me conhece sabe que eu adoro o humor ranzinza dos velhinhos.  Até tenho vários amigos anciãos. 

Mas, voltando à festa, você deve estar sabendo que o elixir da caridade foi servido abundantemente a todos os convidados. E eu, claro, aproveitei, pois estava animadíssima com a minha coroação (ideia do Coletivo Delícia)!

E, por estar tão contente, acho que acabei exagerando um pouco no consumo da bebida. As lembranças do que aconteceu após a cerimônia estão um tanto confusas na minha cabeça. Minha última recordação é de luzes girando, muitos risos alegres, brilhos e jubas passando por mim. E aí, blackout!! Depois, me lembro de ser dia claro e eu estar fazendo um café. Parece que ouço a voz de Saturno, não sei. Dizia algo como acabar a luz, tempos de penúria, mágicos irreversíveis… não entendi nada.

Resolvi sair um pouco para caminhar e tomar um ar e me distraí, observando a organização das pedrinhas pelo caminho: incrível como você consegue classificá-las por cor e tamanho. Fantástico! 

Quando dei por mim, percebi que já fazia mais de dez graus que não encontrava ninguém. 

Para piorar, estou avistando, bem lá na frente, uma movimentação suspeita, semelhante a uma blitz. Parece uma barreira com soldados enfileirados em ambos os lados do caminho. Minhas entranhas me dizem que é uma emboscada.

Suplico que me envie ajuda.

Da sua amiga amedrontada,

Lua

São Paulo, 04 de Fevereiro de 2023

Lua em Leão, Sol em Aquário

Ilustríssimo Senhor Caetano

Como é de conhecimento geral, a Senhora Dona Lua está organizando uma grandiosa festa a ser realizada amanhã, domingo, ao longo da Avenida Paulista em São Paulo. O número esperado de pessoas ultrapassa em muito a casa dos 6 dígitos e estima-se que o sucesso alcançado será superior ao do próximo carnaval. É vontade de Dona Lua que todos os Leões estejam nas ruas, desfilando suas jubas e abrilhantando este acontecimento.

Nossa lista de apresentações conta com nomes consagrados de músicos nacionais e internacionais, que ocuparão as diversas tendas que estão sendo preparadas ao longo da via. Outras atrações também já estão confirmadas, como por exemplo, uma pequena participação do Cirque de Soleil.

Em vista da grandeza deste evento, em nome do maior coletivo leonino do país, e, entendendo que ninguém possui mais local de fala do que Vossa Senhoria, vimos por meio desta, mui respeitosamente, convidá-lo a ocupar o maior lugar de honra disponível neste festejo: o trono do nosso Rei maior.

É sabido também, que nosso Rei Sol está em viagem por terras muito distantes. O que não impedirá que Nossa Majestade envie sua luz para o evento. Até porque, vale frisar que exatamente por ele estar distante é que este evento será viável.

Segue anexo, uma lista de convidados ilustres que já confirmaram presença.

Atenciosamente

Coletivo Delícia

R. S. V. P.

São Paulo, 1º de Fevereiro de 2023

A Lua chega em casa

Amadinhos, 

Mamãe está chegando. 

Por favor, preparem meus banhos e minhas águas. Preciso delas borbulhando de fertilidade. Minha estadia será rápida e, por isso, preciso que tudo esteja úmido, e macio. Usem essas garrinhas com cuidado para não ferir nenhum tipo de vida, mas façam os arranjos necessários. Quero cada folhinha se decompondo direitinho, no tempo devido. O trabalho que fazemos aí é de suma importância para a manutenção da vida, não é novidade, e tenho muito orgulho de poder exaltar a competência e dedicação de vocês. Apesar desse serviço não ter nenhum tipo de glamour, como o dos animaizinhos da Branca de Neve, garanto que ele é muito mais relevante. São vocês que criam os nutrientes que alimentam animais oceânicos de todo o planeta. Isso não é pouca coisa, não. Lembrem-se: só vocês têm a garra necessária para esse trabalho.

Além disso, não confio em mais ninguém para isso. 

Meus queridos, a passagem pelos Gêmeos, vocês sabem, é exaustiva e eu já estou ficando cheia. Minhas pernas doem. Tudo que eu quero agora é a minha casinha, um mangue confortável e um filminho na Netflix – escolham um para assistirmos juntos.

Desejando vê-los em breve, 

Mamãe Lua