São Paulo, 29 de Abril de 2023

Lua em trígono a Júpiter

Cara amiga,

Sei que você está se mudando e que, hoje ainda, estará na casa nova, toda trabalhada nos rituais da espiritualidade. Como você bem sabe que rituais, magias e espiritualidade são o meu forte, segue um ritual para você aproveitar e fazer hoje. É um ritual para atrair prosperidade nesse novo ciclo. Mas já aviso, tem que ser feito hoje, dia 29. Aliás, pode ser feito todo 29 de cada mês. Chama-se nhoque da prosperidade: 

1. Coloque uma nota de dinheiro de qualquer valor e nacionalidade embaixo do prato de nhoque.

2. Fique em pé e concentre-se para iniciar o ritual.

3. Separe em seu prato 7 bolinhas de nhoque e coma uma a uma.

4. Coma os 7 nhoques, um a um e, para cada um deles, faça um pedido.

5. Depois, saboreie o restante. Fique à vontade para escolher um vinho como acompanhamento. 

Pronto, amiga, um ritual simples e de muito boa sorte para a sua casa nova. Se quiser companhia, também posso servir de cobaia para a sua gastronomia. 

Se precisar, tenho várias receitas de nhoque vegano. É só pedir.

Desejo uma estadia feliz na nova casa.

Um beijo fraterno do seu amigo,

Juca

São Paulo, 26 de Abril de 2023

Lua Conjunta a Marte

Madrinha,

Estou cansado… Cansado de ser mal interpretado quando, no fundo, tudo o que eu faço é pensando no bem coletivo. Se eu sou autoritário, às vezes, é porque sei sobre o que ordeno. Já vivi muito, madrinha, conheço os caminhos certos e mais ainda os errados. Também sei que nem sempre tenho razão, mas, quando erro, é procurando o bem, é procurando acertar. Tenho me questionado muito sobre minhas decisões, não ache que não. Mas, às vezes, penso que me pedem mais do que posso dar. Não conheço o idioma do carinho, do afago. Sinto-me desconfortável nesse lugar. Fui criado na secura e no calor, na rigidez e na distância. 

Mas hoje, madrinha, pensei em ficar por aqui, em sua companhia e, quem sabe, poder desfrutar um pouco do seu acolhimento, da sua nutrição. 

Estou cansado de brigar, madrinha. Diga-me, a senhora, a mais sábia: isto um dia terá fim? Chegará o dia em que não serei eu o responsável por girar as engrenagens do mundo? Diga-me, madrinha, ou estou fadado a ser forte a qualquer custo? Conte-me enquanto me deito no teu colo… só por hoje.

M.

São Paulo, 23 de Abril de 2023 

Lua conjunta à Vênus

Ludi, amiga

Acabei de ver na escala que estaremos na mesma tripulação, hoje. Estou tão feliz. Não sei se você viu, o comandante é o Solano, super da paz, tranquilo, e o copiloto é o Hemerson que, pelo que entendi, teve que voltar para a instrução. Ele é novo mas já estava voando solo, só que parece que anteontem, por causa dele, arremeteram em Belém. Disseram que ele ficou confuso e era justamente ele que estava fazendo a etapa. Foi tenso. Mas também pode ser só AFA* né?

Bom, provavelmente, nem teremos contato com eles, pois o Solano quando dá instrução não deixa que ninguém entre na cabine.

Outra coisa, eu sei que essa rota não é muito cômoda para você, por isso estou escrevendo. Sei que quando você está desconfortável, desanda a falar, então quero que você lembre que você estará comigo e que eu estarei ao seu lado. Lembre-se de respirar e, de repente, de se permitir ficar em silêncio. Sei que a ansiedade não te permite o silêncio, mas às vezes precisamos ouvir o que nos dizem os nossos pensamentos. E, se precisar dividi-los, conte comigo. A sorte é que será uma programação curta. Amanhã você já estará em casa.

Até mais tarde, amiga

Vera

*AFA – Associação dos Fofoqueiros da Aviação.

São Paulo, 20 de Abril de 2023

Eclipse Solar

Lúcia, querida,

Na última madrugada, eu morri. Me dei conta de que a fase de enamoramento do meu relacionamento chegou ao fim. É incrível como acreditamos que podemos amar sem que morram as nossas ilusões. Fingimos que podemos prosseguir, agarrados às nossas expectativas de que o outro suprirá as nossas carências. Contudo, passada a fase da paixão, nos resta apenas encarar, friamente, a natureza real daquele ser imperfeito, a quem devotamos o nosso afeto. 

Tudo na vida obedece aos ciclos da vida e da morte e as relações não fogem à regra.  Porém, ao contrário do que pensam, a morte é parte fundamental da incubação de uma nova vida. Para que o amor nasça, a paixão deve morrer. Vida e morte não são opostos, são parte, como o ato de respirar: quando uma respiração termina, outra se inicia. 

Ontem, entendi que o amor tem o seu custo: exige coragem. O milagre que procuramos custa tempo e dedicação. Se quisermos verdadeiramente, minha querida, aprofundar os relacionamentos para alcançarmos o amor, teremos que enfrentar aquilo que mais tememos: teremos que abraçar a morte.

Hélio.

São Paulo, 17 de Abril de 2023

Lua em Peixes se dirigindo para Áries

Nota Mental

Bom dia, segunda-feira, parece que o dia vai ser bonito hoje, hein? Mas que preguiça de levantar da cama. Queria que alguém me trouxesse o café. Na verdade, queria que fosse domingo ainda. Será que é possível repetir o domingo? E, se fosse possível, será que dava pra repetir mais de uma vez? E se fosse só eu que conseguisse fazer isso? Pelo menos eu ia ficar com uma cara melhor do que essa que tenho tido ultimamente. Tá bom, vou levantar. Tinha que marcar aquela reunião… Quando eu chegar no carneiro, eu resolvo. Acho que o dia pede uma caminhada no parque, antes das obrigações.  Acho que vou dar um mergulho antes de sair. Isso, desço, dou um mergulho, volto e me arrumo. Pra começar o dia com mais disposição. Se me atrasar um pouco, tudo bem. Mas, antes, preciso de um café. Alguém materializa um café pra mim, por favor? Vamos, coragem, você consegue. Faz um café de máquina mesmo, que é mais rápido, será que tem fruta na geladeira ainda? Como vou nadar sem comer nada? E se eu passar mal? Talvez seja melhor ir ao mercado rapidinho. Ou vou ao mercado mais tarde e vou tomar café na padaria. Vou nessa da esquina mesmo que é mais perto. Mas o pão de queijo da outra é melhor. Só se eu não comer pão de queijo… acho que vou na outra mesmo, o café lá também é melhor. Ok, se me atrasar um pouco, não vou pra piscina. Mas não dá pra ir à padaria com o cabelo desse jeito. Vou ter que tomar banho. Se eu tomar banho antes, não vou entrar na piscina depois. Ah, tá bom, saio de banho tomado e, de lá, vou direto pro trabalho. Mas não tô a fim hoje. Quer saber? Já que não vou nadar, vou cochilar mais cinco minutos. Resolvo o que ficar pendente quando chegar no carneiro. Zzzzzz

São Paulo, 14 de Abril de 2023

Mercúrio em Touro, Vênus em Gêmeos – Mútua Recepção

Amiga, estou aqui jogada nesse seu sofá delícia, assistindo a um filme que me fez parar para pensar. No filme, assim como nós, duas mulheres resolvem trocar de casa e passar um tempo uma na casa da outra. Coincidência, não? 

Como uma boa comédia romântica, as duas protagonistas são mulheres bem sucedidas, mas infelizes no amor. Uma é editora de livros e a outra trabalha em uma produtora cinematográfica. Uma é traída pelo marido e a outra descobre que seu “ex” está de casamento marcado. Aí, querendo fugir da situação, resolvem tirar férias e, através de um site de troca de casas, uma vai para a casa da outra. Claro, que, apesar de estarem fugindo do amor, tudo acaba “bem” no final, isto é, ambas se apaixonam novamente e voltam a ser felizes com novos parceiros.

 [pausa para contar até dez]

O meu próximo impulso é o de escrever que isso é muito absurdo, que nossa felicidade depende só da gente mesmo, que podemos ser felizes sozinhas e que não devemos nos submeter a relacionamentos insalubres somente pelo status de estar em uma relação. Porém, estou me perguntando, amiga: que tipo de falta é essa, que o “amor” faz nas nossas vidas? Será que ainda depositamos nossa “salvação” na esperança de encontrar um “par ideal”? De onde vêm essas ideias? Se são comuns à grande maioria das mulheres, é porque alguém está nos convencendo disso. A quem serve esse tipo de comportamento? Por que ainda acreditamos nesse tipo de coisa e nos deixamos enredar por relações de dependência, subjugadoras, de posturas contraditórias e até violentas?

Por que, após tantas conquistas, nós ainda nos vemos imersas nos romantismos dos contos de fadas?

É claro que as mulheres dos filmes são estereótipos de mau gosto. Mas, também, é fato que muitas de nós sonhamos com os clichês cinematográficos, acreditando realmente que veremos uma câmera girando à nossa volta, enquanto o homem dos nossos sonhos nos dá um beijo de amor.

Vamos tomar um café, amiga, para conversarmos sobre isso? Na minha casa ou na sua? 

Mercedes

São Paulo, 11 de Abril de 2023

Vênus em Gêmeos, Júpiter no coração do Sol

Meu amor,

Há quinze anos, por sua causa, embarquei numa viagem cujo destino desconheço. Uma caça ao tesouro cujo mapa só indica o ponto de partida. Todo o resto, fomos construindo juntas, tecendo o caminho ao caminhar. Conseguimos ultrapassar, com sucesso, alguns obstáculos. Algumas fases, abandonamos à beira da estrada e, outras, retomaremos quando for mais propício. Mas já contamos vários capítulos dessa história. Lembro-me de um, em especial, em que eu me preocupava muito com o que viria e tentava, obstinadamente, controlar os acontecimentos, por medo das variáveis. Tentativa inútil; hoje, eu entendo. Mas, enquanto eu tinha medo, você queria ter girafas. É, me faltava fé. 

E eu lembro disso hoje, meu amor, porque o dia de hoje fala de fé. Hoje, o grande benéfico dos céus, senta-se à mesa do Rei e é purificado. Hoje é um dia duplo de celebração: dia de festa e de feitiço. Acenda uma vela, encante um objeto, um perfume, faça uma prece, peça ou agradeça, os céus estão ouvindo. Hoje, há quem interceda por nós. É dia de cuidar dos pensamentos e de mentalizar coisas boas. Aproveitemos as palavras doces da Vênus em Gêmeos para encantar as adversidades, para tornar os dias mais leves, para aliviar o fardo do próximo. 

Hoje, Yasmin, te dedico o Cazimi de Júpiter para celebrar a sua vida. Que venham quinze e mais quinze e mais quinze e mais quinze e mais quinze e mais…

Feliz aniversário, meu amor, que Zeus te conceda todos os seus desejos.

Da sua mãe que te ama mais que tudo,

Edna

São Paulo, 08 de Abril de 2023

Vênus Conjunta a Algol

Euríale, querida

Fui ingênua ao acreditar nas boas intenções de Sérgio. Deixei toda uma vida, família, projetos para trás para acompanhá-lo, acreditando que nosso amor era tão profundo que faríamos qualquer sacrifício para permanecermos juntos. EU faria. Ele, nem tanto. Dois dias após desembarcamos aqui, ele me disse que às vezes se sente paralisado com a forma com que eu o olho. Irmã, eu sempre olhei para ele do mesmo jeito, o que mudou? Um olhar apaixonado é paralisante? Eu já entendi o que mudou: o que mudou foi o sentimento dele. Deve estar inseguro, se perguntando se fizemos a coisa certa, talvez achando que nos precipitamos, que agora não tem volta… Já busquei tantas justificativas… Eu também tenho medo, será que ele não vê?

E ele não fala, mas se distancia a cada dia. Meus esforços em tentar uma conversa são infrutíferos. Ele diz que não há com o que se preocupar, que está tudo bem, que eu estou com caraminholas na cabeça. Caraminholas! Se ele soubesse o que trago na cabeça! 

O fato, minha irmã, é que eu já vi esse filme antes e já estou prevendo o final. Se não houver um plot twist surpreendente nos próximos dias, não vou esperar pela parte triste e desoladora porque nessa parte, quem sofre a violência sou eu, quem tem a cabeça cortada sou eu. Se eu perceber qualquer micro violência da parte dele, não vou esperar a cartela do “the end” subir. Transformo esse longa em curta metragem e volto para minha terra.

Mando notícias nos próximos dias, irmã.

Com carinho

Medusa

São Paulo, 05 de abril de 2023

Mercúrio em Touro faz Sextil com Saturno em Peixes

Clóvis

Estou finalmente instalada na nova casa. Tenho ainda algumas caixas para organizar, mas farei isso tranquilamente, com o tempo. Estou precisando de um pouco de paz e sossego. A paisagem aqui é linda: em frente da casa há um jardim muito bem cuidado, com uma passarela de petit pavé e uma lateral florida. Saindo do portão, ao atravessar a rua, é possível caminhar num campo aberto gigantesco, cercado pela linda paisagem montanhosa. Meu mais novo hobbie é sentar em frente a casa para respirar o ar puro e apreciar a paisagem. Aprendi isso com o vizinho que mora duas casas à esquerda. Um homem ó, bonito, Clóvis. Ele cheira a peixe. É pescador dos grandes lagos gelados que existem aqui. Mas, Clóvis, ele é tão interessante que o cheiro de peixe me parece perfume. É um pouco mais velho e tem uma sabedoria serena. Hoje é dia de encontrá-lo. Como já conheço o seu itinerário, me programei para esbarrarmo-nos casualmente. 

Como você pode perceber, apesar de estar numa terra não tão familiar, estou bem, Clóvis. 

Espero que por aí estejam bem também

Sem mais, despeço-me aguardando notícias suas

Hermínia

São Paulo, 02 de Abril de 2023

Lua em Virgem oposta a Saturno em Peixes

Às minhas ancestrais

Mamãe me deixou, como herança, aquele vaso de cerâmica indígena lindo que havia sido da minha avó, que o recebeu de sua mãe, que o recebeu da mãe dela, que o recebeu… Vocês são tantas, as que vieram antes. 

Desde que recebi o vaso, tenho cuidado dele com muito carinho, assim como prometi à mamãe. A cerâmica antiga sempre precisou de reparos constantes. Às vezes, por causa da ação do próprio tempo, algumas lascas iam se desprendendo e eu, rapidamente, tratava de colocá-las no lugar. Como isso acontecia de maneira imprevista, me vi obrigada a fazer-lhe uma vigilância constante. Apesar de ser um vaso muito pesado, eu o levava comigo para todos os lugares. E como alguns lugares eram bastante insalubres para uma cerâmica antiga, com muito sol ou muita umidade, comecei a abster-me de frequentá-los. Aos amigos, contei uma história de que meu apartamento estava em reforma, para que não viessem me visitar. Não seria conveniente que entrassem em contato com o vaso. Meu medo era de que alguém, num movimento imprudente, o quebrasse. O nosso vaso tão frágil…

Acontece que hoje, pela manhã, por descuido, enquanto tirava a louça do café, a saia da minha camisola enroscou-se nele. E ele, numa espécie de malabarismo, se espatifou no chão. Virou pó. Sem cacos ou lascas, somente pó.

Passado aquele momento de choque, em que a alma paira sobre o corpo para avaliar o estrago, varri o chão resilientemente e liguei para as meninas. Contei a elas que não herdarão o vaso.

Agora, vou à praia…

Com carinho,

Edna