São Paulo, 31 de Julho de 2023

Lua em Capricórnio e sem aspectos

Caros clientes,

Gostaríamos de informar que, na data de hoje, não haverá expediente para o público. Os vendedores e entregadores foram dispensados e somente o administrativo trabalhará, de modo interno. 

Tal medida deve-se à necessidade de avaliar os estoques de sentimentos, pois temos tido divergências estapafúrdias no controle de entradas e saídas de alguns deles. Por enquanto, o que podemos adiantar é que várias emoções complexas perderam-se sob uma pilha de ressentimentos que estavam disfarçados de atenção. Algumas prateleiras que deveriam estar cheias de contentamento estão vazias ou ocupadas por amarguras e desilusões. Das alegrias, não se vê reposição há dias. Ainda não se sabe se estão perdidas em alguma pilha de cor semelhante ou se foram vendidas erroneamente.

Estamos investigando se o problema com o ar condicionado tem a ver com o ocorrido, pois o defeito tornou o ambiente extremamente frio e seco, o que torna as emoções acaloradas, um tanto arredias. 

Gostaríamos, também, de salientar que estamos envidando todos os nossos esforços para a solução deste problema o mais rápido possível e que todos os transtornos serão recompensados com doses extras de sonos tranquilos.

Aproveitamos, ainda, para informar que, a partir da próxima semana, receberemos os produtos referentes ao recall realizado na semana passada, das emoções baixas do lote nº 666, bastando dirigir-se ao balcão de trocas com o produto em mãos e aguardar a substituição. 

Contamos com a vossa habitual compreensão.

Atenciosamente

CDEP – Centro de Distribuição Emoção – Pessoa

São Paulo, 28 de Julho de 2023

Mercúrio em Virgem

Primo querido, 

Tenho pensado na sua trajetória na gastronomia e lembrado dos domingos frenéticos no Jardim do Sol: 

O avô recebendo e atribuindo funções a quem chegava, e a avó na cozinha, como sempre, ajudada por algumas tias. 

A comida da avó não tinha gosto. Apesar de farta em quantidade, era tudo ralo, aguado e sem tempero: desde o feijão preto, passando pelo arroz quebrado de segunda classe, até as sobremesas, que eram sempre gelatina colorida molenga ou manjar de coco feito com água, ao invés de leite.

A cozinha não era o forte dela, mas acho que era o jeito dela amar as pessoas. Nas panelas, ela fazia magia para alimentar os dezesseis filhos, mais os agregados e um sem-número de netos. 

Quando me lembro da avó, é sempre nos mesmos cenários: a cozinha e a fogueira no fundo da casa, onde havia um grande tacho de fazer sabão. Não me vem à lembrança a avó descansando, sentada à mesa… Só a avó cortando os alimentos com precisão, mexendo as panelas numa cadência religiosa, as mãos firmes descarnando ossos e o giro do cilindro amassando o pão.

Ela zelava pela exatidão das medidas, pelo aproveitamento das sobras e era paciente com as cocções lentas. Para conseguir alimentar o seu bando, o ritual devia ser seguido à risca. 

Acho que era no fogo dos cozimentos que ela depurava o seu viver, pois não me lembro da avó feliz ou triste, sorrindo, dançando ou em lágrimas. 

Acho que era a sua vida, resiliente e sem tempero, que nos era servida aos domingos.

Sebastiana

São Paulo, 25 de Julho de 2023

Lua em Escorpião, Sol em Leão – Quadratura

Carlos,

Enquanto tomava meu café pela manhã, encostada à porta da cozinha, pude observar, com calma, o meu jardim. Já fazia muito tempo que eu não o encarava com franqueza e percebi que a grama já não está tão verde. A árvore do canto, perto da cerca, perdeu quase todas as folhas e está com uma aparência triste, desolada. As flores dos canteiros desapareceram. E, do lado esquerdo, aos pés da treliça com as trepadeiras, há algumas poças de água paradas e malcheirosas. Aliás, até as trepadeiras estão despencando, Carlos.

Foi um café demorado, o de hoje, com gosto de amargura, e que desceu com dificuldade pela minha garganta. Mas sabe o que mais me incomodou durante a minha observação? O silêncio. Onde antes se ouviam cantos de pássaros em profusão, zumbidos de insetos diversos, hoje, não se ouvia um pio. Silêncio.

Onde está o meu jardim, Carlos? Para onde foram os pássaros e os outros insetos? Onde foi que eu me perdi, que não percebi as folhas secando, a relva perdendo o viço, a terra se tornando lama?

E é, também, incrível que, ao contrário do que acontece aqui, o seu jardim, Carlos, cresce vigoroso, altivo, confiante e até imprudente, pois andei percebendo o desejo dele de se alastrar para as terras vizinhas. Difícil evitar a comparação, visto que também percebi que o tempo dos jardins é o mesmo tempo da nossa relação.

Portanto, decidi fazer uma grande faxina nos meus domínios: jogar fora tudo o que apodreceu, tudo o que ficou pelos cantos esperando atenção, todas as folhas que se afogam nas poças lamacentas, todos os sentimentos travados na garganta. Cortarei as ervas daninhas pela raiz e plantarei novas flores. Darei chance a novas sementes. Abrirei espaço para outras árvores, frutíferas, quem sabe, que me forneçam sombra e alimento, descanso para o corpo e para a alma.

Precisamos conversar, Carlos. Até mais tarde.

Celine

São Paulo, 22 de Julho de 2023

Sol em Leão

Caíque, meu bem, 

Queria que você soubesse algo sobre mim: eu tenho um fraco por gente descabelada.

Chega a dar um frisson.

Mas não é qualquer descabelo, não. Eu falo daquele que foi previamente cuidado, previamente arrumado, mas que foi desconstruído com o passar das horas e dos eventos, sabe?

Sei lá… me chama. Me inflama.

Porque parece que um cabelo desarrumado é um cabelo que foi vivido em primeira pessoa, agente ativo da ação. Foi bagunçado, porque balançou ao vento, se pendurou num galho de árvore, escalou uma montanha, deitou no colo da grama para olhar o céu, pulou corda, cantou, dançou e virou de ponta-cabeça, mergulhou no mar e na areia, descansou no ombro de alguém ou fez amor a noite inteira, adormeceu com cafuné e ganhou café na cama de manhã…

Cabelo com cheiro de suor e gosto de vento.

Cabelos desarrumados me contam histórias: de amores e de funerais, de festas e de desapegos, de superação e de abandonos, dos tempos compartidos e das saudades, vontades, não importa. São histórias de vidas que se entrelaçam, se trançam, se ajeitam, se rebelam, se alisam e se enrolam, uns dias com mais viço, outros dias ressecadas, alguns dias livres, outros, contidas num coque displicente. Mas vidas vividas.

Deus me livre dos cabelos não-me-toque, dos não-posso-sair-porque-está-chovendo, daqueles que têm todos-os-fios-no-lugar, com penteados planilhados no Excel. Daqueles perfeitos, de brilho impecável, sempre frescos e perfumados que escondem uma alma inerte e bolorenta que assiste ao tempo passar pela janela, fechada, é claro, pois o menor sopro de vida pode colapsar toda uma existência de insipidez e melancolia. Deus me livre da monotonia dos cabelos sem tempero, meu amor.

Eu quero pé no chão e gosto de rio, chuva na cara e amor de conchinha. Quero sentir que a vida transborda à flor da minha pele, de dentro de mim.

Dito isto querido, faço um apelo: se não for pra me descabelar, nem se achegue.

Roberta

São Paulo, 19 de Julho de 2023

Sol conjunto à Procyon

Querida irmã,

Lembra da história de Manawee que a vovó nos contava? De como Manawee deveria adivinhar os nomes das irmãs para que pudesse se casar com elas e como seu cachorrinho, apesar de muitos contratempos, é quem consegue descobrir os nomes das moças?

E de como essa história fala da natureza dual das mulheres, mas também de Manawee, pois é sua natureza canina, seu lado instintivo de audição aguçada que tem a tenacidade para cavar, encontrar, perseguir e resgatar idéias valiosas?

Pois é, estou aqui, desde ontem, rememorando histórias e me lembrei dessa. 

Vovó dizia que saber o verdadeiro nome de uma pessoa significa conhecer sua trajetória de vida e os atributos daquela alma. E, também, que é impossível ter um relacionamento em profundidade sem o conhecimento dos nomes verdadeiros dos envolvidos. Tanta saudade dela…

Nessa história, o cãozinho ouve e vê de modo diferente de Manawee, lembra? E, diferente do ego humano, ele segue o que ouve. Tudo bem que ele se distrai com os ossos na estrada, mas volta e recomeça a cada distração, até conseguir cumprir sua tarefa. 

Há muitos ossos na estrada, irmã: ossos suculentos e atraentes, armadilhas que roubam nosso tempo e tentam nos impedir de conquistar o que desejamos. 

O cachorrinho persevera para descobrir os nomes das irmãs, porque os cachorros são os mágicos do universo. Eles são capazes de transformações incríveis: transformam pessoas tristes em pessoas menos tristes e geram relacionamentos. Eles amam profundamente, com espontaneidade e perseverança, e são capazes de perdoar sem esforço.

Aliás, é por isso que escrevo, irmã: para contar que, ontem, adotei um cachorrinho. E que ele já esburacou todo o meu quintal em escavações exploratórias desde então.

Que nome devo dar a ele?

Procyon é uma estrela binária, branca amarelada e amarela no corpo do Cão Menor.

É uma estrela muito afortunada, conhecida pelos mesopotâmios como ‘A Estrela da Travessia da Água – Cão’, pois fica perto do Rio do Céu, a Via Láctea.

Se bem colocada, pressagia riqueza, fama e boa sorte.

São Paulo, 16 de Julho de 2023

Vênus conjunta à estrela Alphard

Cara Senhora Hydra de Lerna,

Deve ser de seu conhecimento o fato de que estou passando uma longa temporada aqui por essas terras e que tomei como ornamento o manto do Leão, aquele que vestia Hércules no último encontro entre vocês. 

Porém, nós duas também sabemos que Hércules e o Leão eram somente duas faces de um mesmo homem. Hércules podia ser cortês e gentil como o filho de um Deus, mas, ao mesmo tempo, também podia ser dominado por um instinto e fúria bestiais, capazes de obnublar sua visão a ponto de perder o controle sobre suas ações. Foi por isso que ele, ao ver-se refletido nos olhos da besta, reconheceu a si mesmo como fera e, assustado, fugiu para a terapia. 

A senhora também, dona Hydra, com todas essas cabeças, não passa de uma alegoria para os muitos assuntos que nos rondam e preocupam a vida. Para que tantas cabeças, senão para ocupá-las, cada uma, com um assunto distinto? Corta-se a cabeça que organiza as toalhas antes dos lençóis e eis que começam a brotar, intercalados, entre as toalhas. Corta-se a cabeça que consulta o tempo pela manhã e passa-se frio por ter esquecido o casaco. 

E, assim, os assuntos multiplicam sua importância e mais cabeças nascem para dar conta de preocupações extras. A senhora consegue perceber que isso nunca terá fim?

Ora, dona Hydra, encaremos a realidade: colocar as preocupações em compartimentos separados na cabeça não as torna menores, mas mais volumosas. A senhora precisa de uma estratégia para cauterizar determinados pensamentos, antes que a situação escalone para um confronto trágico entre monstros imaginados.

Eu odiaria ter que interferir em assuntos tão íntimos, contudo, a paz e segurança destas terras estão sob minha responsabilidade e tenho confiança de que poderemos encontrar um terreno comum e resolver essas diferenças de forma pacífica.

Sugiro trabalharmos juntas para evitar violência e garantir um futuro mais digno e mentalmente saudável.

Atenciosamente

Veruska Leona 

São Paulo, 13 de Julho de 2023

Lua Alcyone em Gêmeos, Marte em Virgem

Laura

Você viu a história do rio que, de tão sujo, começou a pegar fogo ontem? Parece que nada se salvou. As águas estavam tão intoxicadas pelos óleos das fábricas que queimaram toda a vida do rio. Essa história me tocou profundamente, pois você sabe da minha relação com as águas. É nos rios que a vida do corpo e da alma tem início. São os rios que representam o fluxo de pensamento, nossa criatividade, nosso impulso de realização. Fiquei imaginando se meus fluxos de criatividade não andam assim, como o rio que pegou fogo: poluídos e inertes. Desde crianças, somos socializadas para performar um feminino irrealizável: da mulher pura e amante, da mãe que cuida dos filhos como se não trabalhasse fora e que trabalha como se não tivesse filhos. Temos que estar disponíveis, bonitas, dóceis e atentas às necessidades de todos à nossa volta. E, se ousamos solicitar um tempo para a nossa alma criativa, somos logo julgadas e colocadas novamente dentro da nossa caixinha-modelo.

Há muito tempo, abandonei esses papéis e você sabe o preço que pago por essa ousadia. Mas os bombardeios diários à nossa autoestima, as mensagens de que somos insuficientes, menos bonitas do que deveríamos, menos competentes do que gostaríamos, imperfeitas, fracas e indesejáveis são tão incisivos que, às vezes, me pego imaginando se todas essas vozes não têm alguma razão. É difícil lidar com as inseguranças que nos são impostas. 

Tenho chorado muito desde ontem, amiga, pois reconheci, naquele incêndio, a minha própria vida criativa e, também, as de todas as mulheres, sufocadas pelos afazeres vazios e robotizados de todos os dias. Sem tempo para serem elas mesmas, para cuidarem da própria alma.

Assim como Alcyone, que chora porque perdeu seu amado, eu choro, porque não nos deixam existir completamente.

Porém, diferente de Alcyone, minhas lágrimas me fortalecem na medida em que escorrem de meus olhos e me ajudam a dragar o rio à procura da vida da minha alma, das nossas almas.

Saudades

Anne

São Paulo, 10 de Julho de 2023

Marte em Virgem conjunto a Regulus, Lua em Touro

Minha Rainha,

Escrevo para avisar da minha chegada a um reino diferente e que sei que será seu parceiro comercial. Estas terras me deixam inspirado por uma energia poderosa, o que me impulsiona a expressar meus sentimentos por você.

Meu amor por você é uma chama ardente que queima constantemente, alimentada por uma conexão profunda, da qual compartilhamos. 

Minha amada, com você, me sinto calmo e estável e seu espírito é tão sereno… me lembra a brisa suave que acaricia meus jardins rodeados de árvores de raízes profundas.

Estou empenhado em servir a este reino com diligência, aperfeiçoando todas as áreas em que posso contribuir, focado na organização e no cuidado com os detalhes, para não negligenciar nem mesmo pequenos aspectos.

Venha comigo nesta jornada, minha Rainha, e ajude-me a encontrar alegria nas coisas mais simples e a desfrutar do conforto e da paz que são tão caros ao seu reino.

Sinto que, com sua presença relaxante e com meu entusiasmo, poderemos garantir a harmonia para nossas terras e nossos súditos. Tenho certeza de que nossa jornada será abençoada pelos astros e guiada pelo amor e pela compreensão mútua.

Com todo meu amor e devoção,

Ricardo <3

São Paulo, 07 de Julho de 2023

Lua Conjunta a Achernar, Sol em Câncer – Trígono

Guaraci meu amigo,

Escrevo para contar e compartilhar as maravilhas que descobri navegando pelo rio Eridanus em busca de conhecimento e conexão com as energias daquelas águas. Enquanto me aventurava, mergulhei em fontes de sabedoria tão ancestrais que cada mergulho me levava a um fluxo de experiências e insigths diferentes. Era como se ouvisse o sussurro das águas me transmitindo segredos dos antepassados e guiando meu navegar para longe das pedras e armadilhas do caminho.

Senti, mais do que nunca, minha intuição tão aguçada a ponto de experienciar a sensação de fusão com o universo. É impossível descrever com palavras toda a energia e todo o sentimento que tomaram conta do meu corpo nesta viagem.

Também é imensurável todo o conhecimento acumulado neste caminho rio abaixo. Chego ao fim desta jornada tendo a clareza da importância de cuidar e de nutrir aqueles que amo, assim como as águas que alimentam as margens por onde passam. Tenho entendido também, que ao mergulhar fundo em nossas emoções, podemos encontrar a verdadeira essência da nossa existência. 

Anote o que te digo, meu amigo: A sensibilidade e a intuição são as nossas maiores aliadas na busca pela compreensão cósmica. E eu espero, do fundo do coração, que um dia você tenha a oportunidade de desfrutar desta experiência tão marcante. 

Por ora, envio esta carta envolta em toda esta energia que sinto reverberar em mim, acompanhada da voz de Maria Bethânia recitando Guimarães Rosa: “Só na foz do rio é que se ouvem os murmúrios de todas as fontes”.

Levi

São Paulo, 04 de Julho de 2023

Lua em Aquário, Saturno em Peixes

Prezada Selena,

É com alegria que abro as portas da minha casa para você, minha querida. Quando você chegar, ainda estarei em viagem e não poderei recebê-la como gostaria. Estou meditando em águas profundas e misteriosas que me envolvem de sensibilidade e compaixão. Confesso que tenho tido dificuldades em me estruturar em solo tão fluído e evasivo, porém, meu passo é o tempo e a ele me rendo, confiante de que superarei todas as inquietações.

Quero que se sinta confortável, amada. Minha casa foi pensada para valorizar a liberdade, a originalidade e a busca por novas experiências. É um espaço acolhedor, estimulante e você pode se sentir à vontade para explorar, criar e se conectar com os outros hóspedes. Infelizmente, os outros demorarão um pouco para encontrá-la, mas tenho certeza de que você descobrirá coisas interessantes ao explorar a área local.

Seguem algumas dicas que refletem os princípios e características locais para tornar sua estadia única e memorável:

  1. Celebre a individualidade: a diversidade é bem-vinda e celebrada aqui.
  2. Compartilhe conhecimento: convidamos você a compartilhar seus interesses e suas paixões com os outros.
  3. Abra-se para o novo: aqui, encorajamos você a experimentar coisas novas e a se envolver com a comunidade.
  4. Respeite a liberdade dos outros: dê espaço para que cada um desfrute de sua própria jornada.
  5. Seja ecológica: em minha casa, preocupamo-nos com o bem-estar do planeta. Você pode ajudar economizando água, energia e reciclando.
  6. Crie conexões: nosso espaço comum é perfeito para compartilhar e criar memórias duradouras. 

Espero que desfrute de sua estadia e se sinta inspirada pela região.

Seja bem-vinda ao meu refúgio!

Marvin