Mês: maio 2023

Sol conjunto à estrela Hyades

Querida amiga Lívia,

Hoje, amanheci com olhos de mar. 

E o dia, cinza e úmido, parece me compreender…

São as irmãs Hyades, amiga, que derramam suas lágrimas sobre a terra para fertilizá-la. 

Benditas as águas do céu, porque permitem que a vida floresça e frutifique. E benditos os amores que nos deixam em silêncio, sem fazer estardalhaço, que se retiram assim como chegaram, com pés suaves para que as marcas deixadas sejam indeléveis. 

Veja, não é que a partida silenciosa não seja dolorosa, é só que esses amores não deixam traumas quando se vão. E as lágrimas que derramamos por eles, assim como as das irmãs das Plêiades, preparam o campo do nosso coração para que a próxima semente encontre terreno fértil. Mas isso será depois. Por ora, deixo vazar o mar que me afoga e me consolo em saber que as irmãs sentem a minha dor.

Espero revê-la em breve, minha querida, refeita e com o solo fértil como me é peculiar.

Receba meu abraço.

Solange

Lua em Leão, sem aspectos

Denise,

Escrevo porque me sinto mal pelo que aconteceu no nosso último encontro. Acho que não foi um bom momento para ambas. Da minha parte, vejo que me excedi e cobrei de você coisas que dizem respeito só a mim. Sei que você não agiu consciente da mágoa que me causaria, mas o simples saber não torna as coisas menos graves. 

Sinto necessidade de dizer que, apesar do sentimento de decepção que me arrebata, também sinto falta das nossas trocas, das nossas tardes falando besteiras, das conversas profundas e dos momentos de silêncio. Estou a muitos graus andando sozinha, estarei assim por muitos mais e isso tem sido uma oportunidade para refletir sobre muitas coisas, coisas que eu nem sabia que me incomodavam tanto. Estar só ao caminhar é daquelas tarefas que abrem portais, como janelas no pensamento por onde podemos espiar as coisas que estão guardadas há muito tempo. Se a distância é longa, então, temos tempo para observar com cuidado, assoprar algumas poeiras, levantar alguns tapetes, olhar por baixo de sentimentos empilhados, delicados, estratégicos. Às vezes, sem perceber, acabamos encontrando algo precioso, alguma emoção esquecida, daquelas que achamos que nunca existiram, mas que só precisavam ser resgatadas. Tem sido assim, esse meu caminhar sozinha, sabendo que vamos nos encontrar muito lá na frente. Quero chegar em paz. Não posso dizer, ainda, que não guardo mágoas, porque as guardo. Não tenho a evolução necessária para oferecer a outra face. No entanto, estou determinada a fazer do nosso encontro um momento de reconciliação. Sugiro que tenhamos uma convivência pacífica, visto que a amizade se tornou impossível; os laços que foram rompidos não são passíveis de reparação. Todavia, acredito que merecemos sermos capazes de uma conversa digna e respeitosa.

Cordialmente,

Lúcia

Marte em Leão quadra Júpiter em Touro

Querida irmã,

Escrevo para dar pé da situação da lavoura. Acho que nunca tivemos tamanha abundância em todos esses anos de cultivo da terra. Abóboras, beringelas, beterrabas, brócolis, cebolas, pimentões de todas as cores, milhos, pepinos e tomates tão suculentos… Todos prontos para serem colhidos. E as frutas, irmã: os caquis perfeitos, os cachos fartos de bananas, laranjas tantas que inclinam as árvores, tudo pronto para a colheita começar no dia de hoje. 

Porém, irmã, escrevo em meio a uma correria, pois nessa madrugada, fomos atacados por uma nuvem de gafanhotos vorazes que estão a destruir tudo que encontram. Os vizinhos vieram ajudar e o Beto foi buscar auxílio na cidade. Estamos correndo contra o tempo, mas é certo que o prejuízo será inevitável.

Uma pena, minha querida, como lhe disse, até ontem éramos testemunhas da mais incrível fartura dos últimos tempos: abençoada cornucópia que nos era oferecida. Como pode a sorte sofrer tamanho revés? Não se preocupe conosco, querida, a fartura é muita, ainda sobrará o suficiente. Escrevo como desabafo, pois a todo momento somos lembrados de que o controle é uma ilusão. O importante é permanecermos alertas e abertos ao novo, já que basta um instante e tudo muda.

Cheio de saudades,

Júlio César

Marte em Leão

Meu caro amigo Claudio,

É findo o tempo das águas. O charco e o banhado já estão se esgotando e já sinto a brisa quente se aproximando para enxugar os dias. Chega de nostalgia, de choro e de cheiro de mofo. Eu preciso é secar as minhas vestes ao sol. Atravessar o pântano foi custoso e tudo o que eu quero agora é adentrar as gloriosas terras do Rei maior. O rugido que ouço ao longe indica que cheguei. Já me sinto transbordante de força interior, confiança e energia. Aqui, nos domínios do Sol, conseguirei perseguir meus objetivos com obstinação e uma coragem inabalável. Estou pronto para incendiar o mundo com a minha paixão e vitalidade.

Arrume a sua juba, Claudio, e venha comigo. O Sol guiará nossos passos e nosso rugido ecoará nos confins do universo.

Partiu botar fogo no parquinho.

Seu amigo

Maurício

Lua, Júpiter, Mercúrio e Sol, em Touro

Queridos amigos do CPV – Clube dos Pastos Verdejantes: Juarez, Manhoso e Stallone,  

Escrevo esta carta como expressão das influências que compartilhamos por sermos membros deste mesmo Clube Astrológico. Sinto uma forte conexão com cada um de vocês e, para mim, estes poucos dias que passarei aí, em sua companhia, ruminando a mesma relva, serão de muita alegria.

Estou no fim da minha jornada e ando cansada das falas apressadas e atravessadas. Sinto falta de conexões mais reais e objetivas, de calma e confiança, de conforto e abundância. 

A melhor parte de ser integrante deste clube é saber que juntos, podemos construir uma realidade estável, prática e cheia de sensualidade ao nosso redor, porque concordamos que a vida deve ser apreciada ao máximo. Reconheço que podemos ser mais teimosos e relutantes juntos, do que separados, porém há que se admitir também, que quando juntos, multiplicamos nosso poder de apoio e sustento àqueles que nos rodeiam, assim como se propaga nossa fidedignidade. 

Agradeço grandemente pelo acolhimento exuberante e profuso. 

Que possamos continuar a explorar e aproveitar nossas qualidades únicas tanto quanto as que compartilhamos como membros deste clube e que nossa jornada seja plena de conforto, fartura e apreciação pelos prazeres da vida. 

Com amor,

Cheirosa

Lua em Trígono a Marte

Minha mãe, 

Este dia é sempre um desafio para mim, você sabe. Imagino que o seja para você também. É difícil quando as outras pessoas não cumprem as nossas expectativas. E eu demorei tanto tempo para entender que as expectativas eram suas, não minhas. 

Sinto muito por não ser a filha que você esperava. Eu entendo que você tinha sonhos e que gostaria de vê-los realizados em mim. Mas esses sonhos, essas expectativas, eram suas. É importante separarmos as coisas – o que é meu e o que é seu. 

Por muito tempo tentei carregar o que não me pertencia. Tentei cumprir as expectativas. Tentei caber. Achei que era assim que era, até que o destino também me quis mãe. E eu me dei conta de que havia algo errado, de que eu não tinha o direito de exigir contrapartidas pelo amor que eu entregava. Entendi que aquilo que eu recebia até então e que considerava amor, era migalhas, barganhas, exigências, que faziam me sentir em permanente dívida,  como se eu devesse pagar pela vida que me fora dada. 

E então meu filho nasceu. E eu percebi que não era assim. Percebi que meu amor era tão grande que eu jamais poderia cobrar por ele, porque senti-lo já era a coisa mais importante da minha vida. 

E, assim como a carta da torre do tarot, tudo que eu tinha de sólido foi ao chão. 

Contudo, não é incrível como o amor consegue reconstruir os alicerces do zero?

Hoje, venho agradecer pela vida que você me deu e dizer que nunca serei a filha que você quer, mas serei a melhor mãe que eu puder ser. Cometerei outros erros, é certo, mas amarei incondicionalmente porque é assim que meu coração sabe ser. 

Feliz dia das mães

Mercedes

Lua em Aquário quadra Mercúrio em Touro

Roberto,

Não pude dormir durante a noite passada. Sentia falta de estar em casa. Atravessei a madrugada observando o céu. A constelação da cabra ascendia no horizonte junto comigo e acompanhei-a em sua escalada pelo firmamento. Quando o dia nasceu, eu já estava no topo da montanha, suportando o peso de arrastar o dia nas costas. Foi uma bela caminhada, apesar de desafiadora e, durante o árido trajeto, antes de atingir o céu, pude refletir sobre a nossa relação. Percebo que você deu vários passos para trás nos últimos dias, sem nenhuma explicação. Nem se dignou a conversar comigo. Por mais que você esteja com dificuldade para se expressar, saiba que existem outras formas de comunicar sentimentos. Nem só de palavras vive uma relação. Aliás, palavras são realmente supérfluas num relacionamento em que predominam atitudes. Você me disse que estava confuso, com dificuldades para encontrar equilíbrio entre as minhas necessidades e as suas, ora, eu também compartilho dos mesmos desafios, mas nem por isso deixo de expressá-los. Sabe, caminhar com as cabras me fez perceber que não estou preparada para afetos estéreis, ainda mais sabendo do potencial fértil que existe em você. Daqui de cima, do topo da montanha, além das nuvens, vislumbro um mundo vasto e repleto de possibilidades. Às vezes, é bom se afastar para poder enxergar as coisas melhor. E tudo o que vejo me faz pensar que não posso e nem quero aceitar um amor medíocre, Roberto, como o que você tem me oferecido ultimamente. Veja, eu não duvido do seu amor. Só estou dizendo que, para mim, não basta saber que esse amor existe. Eu preciso senti-lo, Roberto, senti-lo.

Regina

Vênus em Câncer

Adorada Luna, Deusa Suprema, 

Venho, através desta, humildemente, solicitar que considere minha candidatura à função de Sacerdotisa do seu templo sagrado. Estou ciente das demandas do cargo e garanto que estou apta a servir e honrar os seus ensinamentos de Deusa. Minha conexão com o divino é recente, porém estou dedicada ao estudo e à prática diária dos rituais meditativos que me elevam a uma profunda sensibilidade e empatia com os sentimentos alheios. Sinto minha intuição aflorada e conectada à espiritualidade. 

Como diferencial, assinalo que possuo um forte senso de acolhimento e tenho procurado confortar e direcionar aqueles que estão à minha volta. 

Prometo incorporar a tradição e a disciplina à minha prática diária e garanto que estou pronta para assumir este compromisso de alta responsabilidade e confiança.

Considere minha solicitação, oh Deusa, com justiça e imparcialidade, levando em consideração a minha capacidade de harmonizar a devoção e prática. 

Agradeço imensamente a oportunidade única de apresentar esta candidatura. Se for escolhida, servirei com humildade, amor e dedicação. Será uma honra que levarei comigo pela eternidade.

Com gratidão,

Verônica.

Eclipse Lunar em Escorpião

Por favor, não leia esta carta em voz alta. Mas, se for obrigado a fazê-lo, sussurre. Não queremos acordar quem dorme. Daqui a pouco, as luzes serão apagadas e eu tenho medo do escuro. Não porque eu ache que algo pode entrar ou me atacar. Temo pelo que pode escapar. Há algo que me acompanha pelas sombras. Não sei o que é, mas sinto a sua presença. É algo que se agita em mim antes mesmo que eu pense em me indignar, que me queima antes mesmo que eu me assuste, que me rasga antes que eu me enfureça. Vivo em estado de alerta e vigília constante. Nunca deixei que esse “algo” escapasse, apesar de seus intentos, e não sei quais seriam as consequências, caso acontecesse.

Tenho pra mim que esse “algo” habita no mais profundo do meu ser, embaixo de pedras ancestrais, em um lugar animal, primordial. Talvez seja feito de muitas poeiras varridas para debaixo do tapete, de frustrações, de arrependimentos, mágoas, choros estancados, solidão, abandono, rancor e desesperança que foram sendo acumulados de geração em geração.

Para onde vão os sentimentos que calamos? Onde guardamos o que não cabe dentro? Será que tudo isso serve de alimento para esse “algo” que cresce?

Em dias de apagão, nossas defesas ficam vulneráveis, nossos sentidos nos confundem. É quando fica escuro que a gente enxerga melhor o que tem dentro. Vigiem.

L.

Lua cresce em Libra

Meu amor,

Há dias, como hoje, em que apesar da motivação do corpo, que não aguenta ficar mais na cama, a alma não deseja se mover. O sentimento é de solidão e desesperança. O caminho está deserto, não se avista viva alma desde muitos passos atrás e eu não gosto de caminhar sozinha, não gosto de não ter com quem conversar. Não ter com quem conversar é estar obrigada a encarar os meus próprios pensamentos, é olhar para minha própria miséria, é colocar toda a minha existência nos pratos de uma balança para tentar equilibrá-los. Olhar para si mesmo é muito assustador. Diga-me, quem sou eu para você? Será que o que você enxerga em mim é sobre mim mesmo ou o que você enxerga em mim é sobre você? Se somos seres relacionais e, sem um espelho, não somos capazes de nos avistar, então, os olhos do outro é que são nossos espelhos. Eu me vejo nos seus olhos e você nos meus. E no caminho deserto? Onde estão os espelhos? Será esse o motivo da insegurança, não poder se enxergar através dos olhos de alguém? Ver-se é dar conta de si e perceber que, apesar de nos quererem iguais, somos distintos. Os espelhos servem para podermos nos vigiar, para não sermos distintos demais. Existe um limite que não deve ser extrapolado. Quem se distingue demais, rapidamente, é repreendido e aconselhado a voltar para o gabarito. Não há tolerância para o extremamente diferente. O diferente é uma ameaça. Só que o problema – veja só a minha perdição – é que eu tenho dificuldades em seguir conselhos e, por isso, costumo pagar um preço alto por insistir em ser quem eu realmente sou. Entende, agora, por que não gosto de caminhar sozinha? 

Venha em meu socorro, te suplico, meu amor

Sua,

Astilbe