São Paulo, 28 de Junho de 2023

Lua e Mercúrio em Trígono

Amiga Joyce maravilhosa, poderosa, salve, salve,

Preciso te contar uma coisa: estava eu chegando em casa ontem no fim do dia. 

Tava cansada? Claro. Descabelada? Também. 

Porém, subindo a rua da pracinha, vi um rapaz tão lindo que em questão de instantes meus cabelos já estavam alinhados. Fiquei olhando para ver se eu reconhecia ou se já tinha visto aqui por essas bandas, mas sabe amiga, ele nem combinava com o bairro. Aí pensei: coitado, tão lindo, deve estar perdido. O que que uma pessoa daquela estirpe, porque dava pra ver que a criatura tinha berço, o que que essa pessoa estaria fazendo neste bairro aqui, amiga? Não tive dúvidas: fui até ele e perguntei se ele estava perdido e se precisava de alguma ajuda. Ele me olhou meio desconcertado, me encarando com uma interrogação naqueles olhos profundos. Devia estar imaginando que eu era louca, mas fiquei ali esperando a resposta e ele teve que tomar uma atitude. Falou que não precisava de ajuda, não. Aí eu falei que eu era do bem, que ele podia ficar tranquilo, que eu só estava querendo ajudar. Como ele recusou com um pouco mais de veemência nesta segunda vez, resolvi não insistir. Mas falei pra ele anotar meu whatsapp e me avisar quando chegasse em casa pra eu poder ficar tranquila.

Ele me olhou um pouco mais incrédulo mas anotou o telefone. Acho que pensou que era melhor não me contrariar, eu me virei e fui embora. Ai amiga, quando cheguei em casa eu ri tanto. A cara que ele fez. Acho que nunca mais volta pra esses lados. Deve achar que só tem doido por aqui. 

Agora tô aqui amiga, ma perguntando: será que ele vai me ligar?

Raquel

São Paulo, 25 de Junho de 2023

Lua em quadratura com Mercúrio

Querido amigo poeta,

A vida acontece é nas oposições e nas quadraturas, pois são as situações difíceis que nos fazem agir, são os problemas que nos tornam criativos, são os tropeços que nos obrigam a mudar a rota. Imagine que triste seria uma vida sem desafios, completamente morna, sem nenhum motivo para deixar a inércia? Os corpos tendem à inércia, você sabe. O problema é que a inércia absoluta é a morte.

É preciso um mínimo de desconforto para que nos sintamos vivos. É preciso o frio para que valorizemos o aconchego de uma lareira, é preciso aridez para que admiremos a tempestade e é preciso a escuridão para reconhecermos o encanto da lua.

Às vezes, temos a impressão de que a situação é incontornável, de que amar novamente será impossível ou de que os sonhos certamente morreram. Mas eu garanto, meu amigo, que qualquer situação é temporária e, com todo respeito à sua dor, que sorte a nossa ter você para traduzir todos estes sentimentos. Porque todos nós, poetas ou não, somos atravessados pelas mesmas vivências, mas só você, com toda a sua destreza e profundidade, é capaz de traduzir em versos o que nós só conhecemos dentro do peito.

Por isso, amigo, chore o quanto precisar, mas escreva. Deixe que o papel carregue um tanto da sua dor e transforme o que te transborda em memória, em arte, em acolhimento para quem sente o mesmo. E se, depois disso, ainda restar outro tanto de dor, divida-a comigo. Você não está só.

Sua amiga,

Edna

São Paulo, 22 de junho de 2023

Lua e Vênus em conjunção

Luamar querida,

Recebo a sua carta com grande alegria. Sinto não ter podido compartilhar com você e Hélio da reunião em que ele lhe fez o pedido. Fico feliz que tenha sido um momento lindíssimo. Transmita a ele, por favor, como me sinto. 

Minha amiga, você tem acompanhado o meu caminho e tenho certeza de que entende meus motivos para não ter comparecido.

Desde que decidi empreender essa jornada de fogo, cada ritual é, para mim, uma transformação profunda e você sabe o quanto eu deixei para trás. Às vezes, a nossa mudança é tão substancial que nós mesmos não nos reconhecemos no dia seguinte, por não reconhecermos quem está à nossa volta e por entender que aquele lugar já não nos pertence. Hoje, me sinto em paz por compreender que o sentimento de estranheza que sempre carreguei a respeito de minha família era somente um aviso de que eu não precisava me encaixar, de que eu deveria construir algo novo, um mundo onde eu coubesse em toda minha inteireza. Ah, minha amiga, o caminho do conhecimento nos custa uma vida inteira e é solitário. 

Porém, também há momentos felizes que devem ser compartilhados e a liberdade, minha querida, é poder escolher com quem compartilhá-los. 

E você sabe que você e Hélio fazem parte das pessoas com quem quero compartilhar os momentos inesquecíveis. 

Por isso, não existiria a menor possibilidade de eu negar este convite para ser sua madrinha. É claro que aceito e me sinto muito privilegiada por estar presente neste momento tão importante para vocês. O amor que vocês sentem um pelo outro é visível e transborda, contagiando todos que estão à sua volta. 

Você merece ser feliz, minha amiga e tenho certeza de que Hélio se encarregará de pavimentar o caminho para você.

Com carinho

Valéria

São Paulo, 19 de Junho de 2023

Saturno retrógrado em Peixes

Minha neta,

Escrevo durante a noite porque à noite tudo é diferente. É à noite que ficamos mais próximas de nós mesmas, mais próximas de nossos sentimentos. 

A noite é território lunar, feminino, intuitivo. 

Hoje, porém, não há Lua no céu. Ela descansa para recuperar seu brilho e reiniciar seu ciclo. E assim também acontece comigo, minha querida: estou cansada. Meus ossos doem e minha coluna já não consegue se manter ereta. Meus passos são inseguros e sinto frio.

A vida é feita de ciclos, meu bem. E a repetição dos ciclos é que garante a continuação da vida, da vida de tudo o que existe, inclusive das ideias e da criatividade. É quando estamos cansadas e não conseguimos mais criar que devemos parar e voltar para casa para descansar. Mesmo que o mundo nos chame, mesmo que pareça errado, mesmo que nos digam o contrário. O retorno para casa faz parte do ciclo da vida. E eu preciso descansar. 

Por isso, retorno sobre os mesmos passos que me trouxeram até aqui: os passos do tempo. 

É ele, o tempo, que nos indica a hora de voltar e também é ele que nos oferece a cura para o cansaço do corpo e da alma. É ele que nos embala e nos coloca para dormir e é ele que nos prepara para um novo amanhecer.

Irene

São Paulo, 16 de Junho de 2023

Marte conjunto à estrela Dubhe – alfa da Ursa Maior

Querida amiga Maria,

Lembrei tanto de você esses dias, dos nossos chás com biscoitos e conversas. 

Ontem, escalei uma montanha. Precisava espairecer e me disseram que o esforço físico ajuda a clarear as ideias. Estava muito irritada com algumas pessoas do trabalho e também com o Jorge, que anda insuportável. Antes de cometer uma besteira, fui dar uma volta e topei com a montanha. 

Comecei o percurso na força do ódio mesmo e, quando dei por mim, já estava no meio do caminho, me sentindo bem melhor. Como faltava pouco, decidi continuar. 

O topo da montanha era um platô e, assim que pus os pés lá em cima, dei de cara com um urso horrendo, gigantesco, que se ergueu nas patas de trás e me mostrou os dentes ameaçadoramente. Em menos de uma fração de segundo, mil pensamentos me passaram pela cabeça e me agarrei a um deles, que dizia para eu não mover um músculo. 

Fiquei ali, parada, imóvel. O urso me cheirou, andou à minha volta, pôs-se à minha frente e me convidou para um café. 

É, eu sei o que você deve estar pensando. 

Achei que não era de bom tom negar o convite de um urso raivoso, então, aceitei. Sentei-me numa pedra, ele me trouxe uma xícara com café e sentou-se comigo. Depois de um longo silêncio, e porque eu o olhava com um ar desconcertado, ele, olhando fundo e fixamente em meus olhos, disse-me: eu sou a sua raiva. 

E eu pensei: nossa, que grande, sombria e carrancuda.

Olhar de frente para essa raiva me fez perceber o peso que tenho carregado, me fez sentir compaixão pelo aspecto dela e, ao mesmo tempo, me fez perceber a força que ela tem. 

Foi uma longa tarde de conversa, como as nossas, mas diferente. O café estava bom, acolhedor e esclarecedor. Não é fácil encarar aquilo que nos habita e que nem sabemos nomear. No fim, fiz um acordo com o meu urso: combinamos que, todas as vezes em que ele sentir que está crescendo e ficando incontrolável, ele entrará em sua caverna e hibernará, até que o gelo derreta, até que seja primavera outra vez.

Se quiser me visitar por esses dias, amiga, o urso está hibernando. Pode vir sem medo.

Saudades

Mirtes

São Paulo, 13 de Junho de 2023

Lua em Áries, Sol em Gêmeos – Sextil

Santo Antônio, meu querido,

Como tu tá?

Fiquei sabendo que, no 13 de junho, tu desce aqui pra Terra pra participar das comemorações do teu dia. 

Vai tá por onde hoje? 

Tava querendo trocá uma ideia contigo. Acho que tá havendo uns mal entendido entre a gente, não sei. Tô com a impressão que eu lhe chateei de alguma forma. Foi na última conversa que a gente teve? Eu até te tirei do congelador! 

O Josias, que te pendurou pelas perna cá cabeça dentro d’um copo d’água, já arrumou namorado e, eu, ainda não. 

Mais um dia de humilhação, ontem… Porque eu acreditei em tu… Tu não sabe o que é passá o dia vendo fotinho de casal na internet… Depois a gente comete uma doidêra… Ninguém vai pensá no santo, que o santo não cumpriu o que devia… 

Eu sei que o Josias é mais devoto do que eu, só que sou eu que agito o teu fã clube, ou não é? 

Um, [respira], dois, [respira], três, [respira], quatro… 

Eu tô bem, tô bem. Sou uma mulher terapeutizada. Tô respirando, fica tranquilo. 

Não é nada pessoal, não, só queria resolvê mesmo logo isso, antes que chegue o ano que vem, né?

Tá sabendo que eu tô aqui nas terras do Carnêro? Minha amiga baleia tá chegando ali. Quem sabe eu te apresento ela. Talvez ela consiga te convencê a prestá mais atenção no meu caso. Ela até que é bacana quando gosta da pessoa. Lembra do Jonas?

E o senhorio aqui se amarra na minha também. A gente tava numa conversa boa ontem. Ele tá nas terras do Leão, caçando uns caranguejo. Falei que eu ia tentá te encontrá hoje e ele mandou lembranças, perguntou se eu queria que ele viesse junto, imagina, eu me dou tão bem com tu, falei que não precisava. Ele tá ocupado lá, encrencando com uns inimigo. Não é bonito o que ele faz com eles, não.

Mas, bora marcá, resolvê logo isso, tu me diz o que eu tenho que fazê, eu faço e fica tudo bem. O que não dá é pra ficá mais um ano desse jeito.

É que por aí deve tá tudo bem, né? Eu sei que quando a gente tá por cima, é difícil pensar em quem tá embaixo.

Só nao esquece que, um dia, a tapioca vira!

Da sua amiga e fã,

Claudete

São Paulo, 10 de Junho de 2023

Lua em Peixes, Sol em Gêmeos – quadratura

Dona Filomena, 

Como a senhora está? Espero que bem. 

Venho dar notícias das suas margaridas. Tenho ido vê-las todos os dias, assim como a senhora me pediu. E elas estavam indo muito bem, multiplicaram-se e já enchiam toda a lateral direita do jardim frontal. Acontece que, ontem, quando cheguei, às nove da manhã, como sempre, percebi que havia uma lesma na lateral esquerda, bem em frente às margaridas e temi que logo constituísse família e se alimentassem das flores. Recolhi a intrusa delicadamente – a senhora sabe que sou contra causar dano a qualquer ser vivo – e a levei para fora da propriedade. Qual não foi minha surpresa quando voltei e encontrei duas lesminhas ocupando o mesmo lugar da anterior. Então, repeti o procedimento e levei as duas lesminhas para fora. Quando voltei, encontrei quatro indesejadas e, a cada vez que eu as retirava, elas se multiplicavam em progressão geométrica, até que, desesperado, esqueci-me de todo comprometimento com os seres viventes e arrumei algum veneno para dar fim àquelas devoradoras de margaridas. 

Ao borrifar o veneno sobre elas, minha senhora, ninguém poderia prever, elas cresceram em proporções inimagináveis e, em pouco tempo, ocupavam todo o lado esquerdo da propriedade, aproximando-se perigosamente das margaridas. Acontece que as flores, as ardilosas margaridas, têm um péssimo temperamento. Todos sabem: as flores, percebendo que perdiam espaço, começaram a crescer em volume e quantidade e eu tive que sair correndo, pois, em poucos minutos, havia uma verdadeira guerra entre flores e lesmas ocupando todo o jardim. Quando deixei a casa, já não se podia ver mais nem mesmo o telhado da parte oeste.

Porém, pelo que pude perceber, pelo vigor de todas as flores, essas lesmas não são do tipo que comem margaridas, com o que a senhora pode então, ficar tranquila.

Att

Dario

São Paulo, 07 de Junho de 2023

Lua em Aquário, Vênus em Leão: Oposição

Vilma,

Peguei uma gripe fortíssima. Dessas que a gente leva anos para se recuperar, sabe? O corpo todo padece: meus pés tropeçam e as pernas tremem, fraquejam, mal sustentam o corpo. De tempos em tempos é preciso parar, encostar em algo, respirar fundo, trazer o pensamento de volta ao lugar e aguardar a lipotimia passar.

No abdômen, espasmos e agitação. Uma sensação de urgência que desconcentra, desconcerta. O peito sufoca e, mesmo que a respiração seja profunda e cadenciada, o ar é insuficiente. O coração dispara do nada: sinto as batidas tão fortes que tenho a impressão de que um espectador mais atento conseguiria percebê-las através da minha camisa, que pulsa no mesmo ritmo.

Às vezes, me sobe um calafrio que me retesa os músculos, me arrepia a pele e me faz quase perder os sentidos. Sou refém de suspiros que chegam de propósito em momentos inadequados. E, na sequência, o corpo arde, de dentro para fora e de baixo para cima.

O olfato, por incrível que pareça, está aguçadíssimo: cheiros e lembranças de cheiros que me enchem de água a boca e nublam a minha visão. Engraçado, Vilma, que esses cheiros me lembram você, e só eu os sinto. 

E eles, os cheiros, vêm acompanhados da necessidade de satisfazer o paladar: Me demoro apreciando os aromas, as texturas, os gostos. E me pego lambendo lábios e dedos como que para esgotar os sabores.

E ouço uma voz, Vilma, a sua voz, que sussurra em meus ouvidos, tão real que posso te sentir o calor do hálito. Um sussurro que me atiça as partes inferiores e me tira a razão. 

São delírios que me desconectam da realidade e prejudicam meu desempenho no trabalho. Não posso mais suportar: já tomei paracetamol, antiinflamatório, antihistamínico, descongestionante; já fiz reza braba e macumba forte. Nada adianta, Vilma.

É realmente uma gripe fortíssima.

Lallo

São Paulo, 04 de Junho de 2023

Lua oposta ao Sol – Lua Cheia

Meu muito estimado amigo Nei,

Fiquei sabendo que está atravessando um duro período e venho me colocar à disposição, caso necessite de algo. Apesar de entender a necessidade do seu recolhimento, saiba que estarei aqui quando voltar. Você não precisa enfrentar as adversidades sozinho e é importante que saiba que não será o único a passar por etapas difíceis. Quem me vê assim, flanando pelo ar, cheia de mim, cintilante e colorida não sabe pelo que passei para chegar até aqui. Hoje, sei que a vida é feita de ciclos: alguns bons, outros mais desafiadores. Porém, é preciso superá-los com o entendimento de que são fundamentais para o nosso desenvolvimento. Nada acontece por acaso e ninguém cruza o nosso caminho em vão. Há momentos em que precisaremos nos encasular e, em outros, rogaremos por ajuda – movimento difícil, não é? 

O importante é que nós somos seres sociais e nos desenvolvemos na relação com os grupos, nos apoiando uns aos outros, sendo solidários. Hoje, meu amigo, eu posso oferecer ajuda, porque esta me foi oferecida quando precisei. Confie no que te digo, Nei, pois conheço o lugar de onde falo: até ontem, assim como você, eu era uma lagarta.

Sua amiga, 

Lilian

São Paulo, 01 de Junho de 2023

Lua em queda e sitiada

Cara Dra. Eunice, bom dia,

Escrevo porque, na última noite, tive um sonho estranhíssimo: estava numa casa de praia, aonde eu ia com minha família quando criança. Havia uma espécie de evento acontecendo lá e cada peça da casa era ocupada por algum tipo de serviço. Eu estava procurando alguma coisa que não sei o que era, só sei que eu tinha que encontrar. O clima era meio sombrio, meia luz, paredes velhas e encardidas, algumas portas tortas, apodrecidas, como se a casa estivesse abandonada por muito tempo. Eu entrei sem fazer cerimônias, no que entendi que o imóvel ainda me pertencia de alguma maneira, e comecei a percorrer os cômodos a procura não sei de quê. Em um dos quartos, uma cigana lia as cartas, em outro, pessoas sentadas em um grande sofá de canto bebiam e conversavam, noutro, ainda, havia alguns animais: um papagaio, um gato selvagem e muitos escorpiões. Conforme eu ia entrando, os espaços iam diminuindo e o corredor ficando estreito. Havia lances de escadas que ora eu tinha que subir, ora descer, até que os cômodos se acabaram e restaram somente escadas estreitas, com degraus que se cruzavam, num labirinto sem fim. A confusão era tanta que não era possível saber se eu estava subindo ou descendo pelos degraus. E eu procurava algo e procurava e procurava. E entendi que mergulhava cada vez mais fundo na terra, sem saber se conseguiria voltar, mas seguia na minha busca desesperada. Até que acordei, exausta e com a sensação de ter fracassado em algo, e esta sensação parece que aumenta com o passar das horas. Me diga, doutora, o que devo fazer? Há algum enigma a ser decifrado por trás desse sonho? Como saber o que eu estava procurando? Sinto que vou enlouquecer se não desvendá-lo. Sei que a senhora é especialista neste assunto, por isso é que escrevo.

Grata pela atenção,

Leila