São Paulo, 05 de Setembro de 2023
Laerte meu amor,
Precisamos ter uma conversa.
Lembra quando você foi a Buenos Aires e me perguntou se eu queria algo e eu pedi que me trouxesse uns alfajores?
E de quando você foi à Espanha e me ligou de lá, dizendo que tinha me comprado umas castanholas para as minhas aulas de flamenco?
Nem sei se você lembra, mas os alfajores você disse que deu para a sua irmã porque ela os viu na bagagem e pediu. As castanholas, nunca nem vi. Tenho dúvidas de que um dia existiram de fato.
E mês passado, quando eu estava doente, lembra?, você me ligou dizendo que estava em São Paulo e que viria me ver. No dia seguinte disse que se arrumou para vir mas teve uma dor de cabeça e não conseguiu sair do hotel. Ontem você pensou em vir mas talvez estivesse tarde e não queria incomodar. Hoje você viria mas acabou demorando para organizar suas coisas para o vôo de amanhã.
Somos amigos há tempo suficiente para que eu possa te dizer: Laerte, palavras são apenas palavras. Podem estar carregadas de intenções, mas intenções também são somente intenções. A promessa de alfajores não substitui a doçura e o prazer ao comê-los. A notícia de que me comprou castanholas não substitui a satisfação de tocá-las. A vontade de ter vindo não substitui a sua presença, Laerte.
Tenho a impressão de que ao prometer coisas que não pretende cumprir, você imagina que eu ficarei alegre pelo simples motivo de imaginá-las. Mas… surpresa! não é assim que acontece. O sentimento, meu amigo, é de frustração. E, hoje, para ser bem sincera, enquanto você fala, eu me deixo observar as palavras serem levadas pelo vento. Palavras, se não forem acompanhadas de ações, não substituem carinho, não enchem barriga, não constroem relações.
Vamos falar de atitudes?
Beatriz

