São Paulo, 11 de outubro de 2023
Sofia, minha amiga,
Como é insalubre a vida da mulher nesses tempos, você não acha? Tenho pensado muito, nos últimos dias, em como somos cobradas para nos encaixarmos em padrões utópicos e cruéis. Me sinto tão desanimada…
Então, ontem, tomei uma decisão drástica, mas muito importante, e queria que você fosse a primeira a saber. Não pense que, para mim, foi fácil chegar a esse ponto, porque não foi. Você sabe que eu sou aquela que luta até o fim. Por isso, não me julgue. É que, na real, não estou mais suportando mesmo. É tudo tão complicado, Tantas exigências insanas, a pressão que recebemos de todos os lados…
É triste, minha amiga, mas cheguei à conclusão de que preciso me aposentar dos homens. Não tenho mais paciência. Sem saco pra ficar explicando o óbvio, pra gente que acha que vai entrar na minha vida, matar um dragão, me salvar e me levar pro seu castelo, como se eu já não tivesse o meu. Me salvar de que, pelamor? Que mania de achar que tem que chegar na vida do outro causando estardalhaço, que tem que mudar tudo, que o outro nunca foi feliz, porque o alecrim dourado ainda não havia chegado. Estou cansada de explicar que meu coração não é terra de ninguém, que não havia um deserto aqui antes dele chegar, que ele não pode invadir as terras dos meus sentimentos, fincar uma bandeira e tomar posse.
Sabe, queria tanto que alguém chegasse de pantufa, pisando mansinho, cuidando pra não derrubar nada, falando baixinho pra não acordar o ranço… Mas parece que os homens aprendem masculinidade nesses filmes de Hollywood , que têm uma explosão a cada cinco minutos.
Eu só quero silêncio.
Francisca

