Mercúrio em Sagitário

São Paulo, 10 de novembro de 2023

Querida Beatriz,

Ontem, falei com Heitor. Olhos nos olhos. Novamente.

Sabe aquele sentimento de que algo não se encaixa? De quando as coisas parecem perfeitas demais? Pois é, ainda o sinto. Mas, ontem, por um momento, tive um vislumbre daquilo que pode ser o incitante desse sentimento: Heitor falava sobre mulheres que não consultam seus parceiros sobre coisas do dia a dia. E,  então, perguntei: e você acha, Heitor, que eu sou o tipo de mulher que pediria permissão ao meu parceiro para fazer qualquer coisa que fosse? 

Bia, nós estávamos sentados em um café, de frente um para o outro. Heitor estava de cabeça baixa, ocupado, separando um pedaço de bolo do seu prato para acompanhar o gole de café. Então, ele parou por um instante e, sem mover a cabeça, levantou os olhos em direção aos meus. Foi ali que a flagrei: a besta que me espreita. A fera que pulsa por trás do porte alinhado e civilizado. Ao perceber que fora descoberta, Heitor retorna ao humano e responde, educadamente, que não vê sentido em continuar a conversa. Diz que está satisfeito e pede a conta. 

Ele pensa que ela está domada, mas é ela que o possui, paciente, aguardando pelo momento certo, pelo deslize crucial… Um único descuido e ela saltará para fora, tomada da fúria de um animal encarcerado.  É ela que desperta os meus gatilhos, amiga. É por ela que sinto, no fundo das minhas entranhas, que Heitor não é o príncipe que se diz ser.  É preciso crer, minha amiga, no que dizem nossas vísceras.

Afetuosamente,

Juliana

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