Lua entre os maléficos
Caro amigo Mercúrio,
Envio esse “psicopombo correio” na esperança de que ele o encontre. Estou perdida em suas terras. Creio que fui encurralada e, neste momento, temo por minha vida.
Como você sabe, há dois dias, promovi uma festa incrível e sem precedentes. O sucesso foi estrondoso. Aliás, senti sua falta. Espero que não tenha ficado zangado com a carta que enviei anteriormente. Você entendeu que era brincadeira, não é? Quem me conhece sabe que eu adoro o humor ranzinza dos velhinhos. Até tenho vários amigos anciãos.
Mas, voltando à festa, você deve estar sabendo que o elixir da caridade foi servido abundantemente a todos os convidados. E eu, claro, aproveitei, pois estava animadíssima com a minha coroação (ideia do Coletivo Delícia)!
E, por estar tão contente, acho que acabei exagerando um pouco no consumo da bebida. As lembranças do que aconteceu após a cerimônia estão um tanto confusas na minha cabeça. Minha última recordação é de luzes girando, muitos risos alegres, brilhos e jubas passando por mim. E aí, blackout!! Depois, me lembro de ser dia claro e eu estar fazendo um café. Parece que ouço a voz de Saturno, não sei. Dizia algo como acabar a luz, tempos de penúria, mágicos irreversíveis… não entendi nada.
Resolvi sair um pouco para caminhar e tomar um ar e me distraí, observando a organização das pedrinhas pelo caminho: incrível como você consegue classificá-las por cor e tamanho. Fantástico!
Quando dei por mim, percebi que já fazia mais de dez graus que não encontrava ninguém.
Para piorar, estou avistando, bem lá na frente, uma movimentação suspeita, semelhante a uma blitz. Parece uma barreira com soldados enfileirados em ambos os lados do caminho. Minhas entranhas me dizem que é uma emboscada.
Suplico que me envie ajuda.
Da sua amiga amedrontada,
Lua

