Eclipse Solar
Lúcia, querida,
Na última madrugada, eu morri. Me dei conta de que a fase de enamoramento do meu relacionamento chegou ao fim. É incrível como acreditamos que podemos amar sem que morram as nossas ilusões. Fingimos que podemos prosseguir, agarrados às nossas expectativas de que o outro suprirá as nossas carências. Contudo, passada a fase da paixão, nos resta apenas encarar, friamente, a natureza real daquele ser imperfeito, a quem devotamos o nosso afeto.
Tudo na vida obedece aos ciclos da vida e da morte e as relações não fogem à regra. Porém, ao contrário do que pensam, a morte é parte fundamental da incubação de uma nova vida. Para que o amor nasça, a paixão deve morrer. Vida e morte não são opostos, são parte, como o ato de respirar: quando uma respiração termina, outra se inicia.
Ontem, entendi que o amor tem o seu custo: exige coragem. O milagre que procuramos custa tempo e dedicação. Se quisermos verdadeiramente, minha querida, aprofundar os relacionamentos para alcançarmos o amor, teremos que enfrentar aquilo que mais tememos: teremos que abraçar a morte.
Hélio.

