Lua em Leão, sem aspectos
Denise,
Escrevo porque me sinto mal pelo que aconteceu no nosso último encontro. Acho que não foi um bom momento para ambas. Da minha parte, vejo que me excedi e cobrei de você coisas que dizem respeito só a mim. Sei que você não agiu consciente da mágoa que me causaria, mas o simples saber não torna as coisas menos graves.
Sinto necessidade de dizer que, apesar do sentimento de decepção que me arrebata, também sinto falta das nossas trocas, das nossas tardes falando besteiras, das conversas profundas e dos momentos de silêncio. Estou a muitos graus andando sozinha, estarei assim por muitos mais e isso tem sido uma oportunidade para refletir sobre muitas coisas, coisas que eu nem sabia que me incomodavam tanto. Estar só ao caminhar é daquelas tarefas que abrem portais, como janelas no pensamento por onde podemos espiar as coisas que estão guardadas há muito tempo. Se a distância é longa, então, temos tempo para observar com cuidado, assoprar algumas poeiras, levantar alguns tapetes, olhar por baixo de sentimentos empilhados, delicados, estratégicos. Às vezes, sem perceber, acabamos encontrando algo precioso, alguma emoção esquecida, daquelas que achamos que nunca existiram, mas que só precisavam ser resgatadas. Tem sido assim, esse meu caminhar sozinha, sabendo que vamos nos encontrar muito lá na frente. Quero chegar em paz. Não posso dizer, ainda, que não guardo mágoas, porque as guardo. Não tenho a evolução necessária para oferecer a outra face. No entanto, estou determinada a fazer do nosso encontro um momento de reconciliação. Sugiro que tenhamos uma convivência pacífica, visto que a amizade se tornou impossível; os laços que foram rompidos não são passíveis de reparação. Todavia, acredito que merecemos sermos capazes de uma conversa digna e respeitosa.
Cordialmente,
Lúcia

