Se Protéa é a alma ancestral que zela pelo destino, Catarina é o Sol, a força jovem e impulsiva cuja crise existencial desencadeia a trama de La Bruja. Este universo não é apenas uma fantasia; é uma descida ao coração da psique de uma jovem que, aos 16 anos, se encontra no limiar da depressão. A história de Catarina não é um relato sobre mundos distantes, mas sobre o mundo como ela o vivencia. Quando a encontramos, sua realidade está progressivamente se tornando um “mundo cinzento” onde a indiferença, a solidão e o vazio dominam.
O Mapa Natal: A Realeza em Exílio
A essência de Catarina é ser a protagonista de sua própria história, uma condição determinada pelo seu Ascendente em Leão, regido pelo Sol. No entanto, ela vive um período de sombra. Seu mapa natal, eleito para 17 de agosto de 2009, em Curitiba, revela as forças que a aprisionam:
O Eclipse Pessoal: Seu Ascendente está no 20º grau de Leão, o ponto exato onde ocorrerá o eclipse solar em 2026, dias antes de ela completar 17 anos. Esse alinhamento fatídico transforma o evento cósmico em um trauma de origem pessoal, marcando o dia do eclipse como o dia de sua crise.
O Vazio e a Casa 12: A causa astrológica da profunda solidão e do desamparo de Catarina é o posicionamento de sua Alma (a Lua) na Casa 12. A Casa 12 é o lugar das prisões, das limitações e dos inimigos secretos. Essa posição é a origem de sua sensação de isolamento extremo, pois sua alma é marcada pela ausência prévia de contato com outros planetas, reforçando uma jornada que ela sente ser solitária.
A Mãe Oculta: Sua Mãe (Vênus) também está exilada e cativa na Casa 12. A mãe, por sua vez, é uma guardiã inconsciente de um segredo ancestral, reagindo instintivamente à filha na tentativa de negar as próprias intuições. O trauma familiar se manifesta fisicamente em Catarina como uma “pressão na caixa torácica“.
A Realidade Subjetiva e a Crise
A realidade de Catarina é filtrada por sua dor. O trajeto pelo Jardim Botânico, sua rota diária, se torna o limiar dessa realidade sombria e interior. As raízes das árvores que ela ama, agora parecem ser um labirinto perigoso e sufocante.
A Solidão Funcional: O leitor, através dos olhos de Catarina, é introduzido em um mundo onde as pessoas ao redor não validam seus sentimentos, refletindo a verdade de seu estado interior.
A Loba, a Alma Vazia: A manifestação física desse sofrimento é a Loba da Névoa, sua alma ferida, percebida apenas na visão periférica como uma criatura cinza, etérea e esquálida. Ela peregrina em busca de alimento, expressando a fome da alma da própria Catarina.
Guias e Adversários no Labirinto A crise força o aparecimento de forças que guiarão a jovem (e a perseguirão) em sua jornada para restaurar a integridade de seu Self.
Maurício, o Andarilho: O Cozinheiro andarilho, Maurício (Marte em Gêmeos) é o mentor dúbio de Catarina. Ele é o único que a vê, e usa seu intelecto (Gêmeos) para armar armadilhas verbais e enigmas que a forçam a agir. Sua intenção é caçar a Loba da Névoa para fazer uma deliciosa caçarola.
Protéa e a Voz Distorcida: Protéa, a antiga sacerdotisa e guardiã da floresta do Monte Cabezón, tenta se comunicar, pois não está totalmente separada de Catarina, utilizando sua sabedoria (Júpiter) para alcançá-la.
A Chave da Salvação: A cura do Sol de Catarina depende de sua coragem em seguir os sinais e confrontar o predador.
Se Protéa é a alma ancestral que zela pelo destino, Catarina é o Sol, a força jovem e impulsiva cuja crise existencial desencadeia a trama de La Bruja. Este universo não é apenas uma fantasia; é uma descida ao coração da psique de uma jovem que, aos 16 anos, se encontra no limiar da depressão.A …
Depois de vislumbrarmos o instante em que os mundos de Protéa e Catarina se tocaram sob a sombra do eclipse, é hora de mergulharmos nas profundezas de quem são essas protagonistas. Começamos com a figura que é o ponto de ancoragem de toda a narrativa, a alma ancestral que zela pela teia do tempo: Protéa. …
Na narrativa de La Bruja, dois mundos se entrelaçam durante o eclipse solar de 12 de agosto de 2026. Este evento, situado astrológica e simbolicamente na Casa 8, impulsiona uma crise de escuridão e morte, reverberando nas vidas de Catarina e Protéa. A presença de Saturno articula uma resolução ancestral, moldando a trama e os conflitos a serem explorados.
Em um cenário entrelaçado, Protéa, sacerdotisa em uma floresta atemporal, percebe sinais de um mal iminente, enquanto Catarina, uma adolescente, vive experiências estranhas em um Jardim Botânico. Ambas conectadas por uma sabedoria ancestral, sentem a proximidade de um eclipse que pode fraturar suas realidades interligadas.
Depois de vislumbrarmos o instante em que os mundos de Protéa e Catarina se tocaram sob a sombra do eclipse, é hora de mergulharmos nas profundezas de quem são essas protagonistas. Começamos com a figura que é o ponto de ancoragem de toda a narrativa, a alma ancestral que zela pela teia do tempo: Protéa. Para compreendê-la, precisamos olhar para o céu que a concebeu.
Na dramaturgia celeste de La Bruja, Protéa é a encarnação do planeta Júpiter, o grande benéfico. Conhecido como o “Segundo Sol”, Júpiter representa a magnificência, a sabedoria, a proteção e a expansão. Ele é a força que promove a temperança, a harmonia e os ideais elevados. Protéa, portanto, não é apenas uma bruxa; ela é uma força cósmica de equilíbrio, a guardiã destinada a proteger não só a floresta, mas a própria alma de Catarina.
O Domínio da Guardiã: A Floresta e o Tempo Profundo
Protéa habita a Floresta do Monte Cabezón, na Cantábria, um lugar limitado por um precipício rochoso onde o tempo se manifesta de forma física. Sua casa, pequena e camuflada por musgo por fora, revela um interior imenso e acolhedor, com um grande salão iluminado por um lustre de cristais e repleto de objetos ritualísticos. O centro de seu poder é uma grande janela circular de onde é possível contemplar o céu sem interferências, seja dia ou noite, permitindo-lhe “espreitar o universo”.
Sua relação com o tempo é a sua característica mais definidora. Ela é um ser que transcende todas as instâncias. O tempo, como o conhecemos, não existe para ela; tudo acontece no “agora“: o passado, o futuro e o espaço entre eles. No entanto, sua função está ancorada na Terra, e ao “descer de sua esfera celeste”, seus poderes tornam-se limitados, sujeitos às leis do nosso planeta. Embora seja “aquela que tudo sabe”, essa limitação faz com que, às vezes, ela só consiga “prever somente o sintoma, não a causa”.
O Mapa Celestial de Uma Alma Ancestral
Para dar profundidade a uma alma tão antiga, seu mapa de nascimento foi eleito em um tempo distante: 27 de julho de 948 d.C.. Este mapa revela os pilares de sua essência:
Um Stellium na Casa de Deus: Protéa nasceu com uma extraordinária reunião de planetas (Mercúrio, Sol, Vênus, Júpiter e Saturno) na Casa 9, a casa da espiritualidade, dos oráculos, das jornadas e da sabedoria superior. Este alinhamento a consagra como a profetisa por excelência, a “guardiã dos oráculos” e a mentora destinada a guiar a alma de Catarina em sua busca pela verdade.
O Destino de Guardar Tesouros: O Meio do Céu (MC) de Protéa, o ponto que indica seu propósito no mundo, está em conjunção com Thuban, a estrela alfa da constelação de Draco, o Dragão que guardava o Jardim das Hespérides. Essa estrela destina a Protéa o papel de guardiã de “grandes tesouros”, que podem ser tanto materiais quanto espirituais. No caso dela, o tesouro é a própria floresta, um lugar considerado o “coração do mundo”, cujas árvores guardam a história da criação em suas cascas.
A Estrela da Paciência e Obstinação: No mapa do Eclipse disparador da nossa história, seu Júpiter está em conjunção com a estrela Asellus Australis, o “burro do sul”. Segundo a lenda, os zurros dos burros desta constelação espantaram os titãs, e os deuses, em gratidão, os elevaram aos céus. Esta estrela confere a Protéa uma personalidade caritativa e acolhedora, mas também a obstinação e a paciência de um burro, qualidades essenciais para proteger a alma da floresta através dos milênios.
Protéa em Ação: A Guardiã no Dia do Eclipse
No dia 12 de agosto de 2026, a paz de Protéa é abalada. Ela observa o céu e suas mandalas, e sabe que algo está incorreto. Ela sente um “assentamento de tempo” quando uma grande pedra rola pelo despenhadeiro. O ar sofre uma “paralisia”, e ela sabe que as árvores se comunicam em resposta a um perigo iminente. Consciente de que o eclipse que se aproxima permitirá que “algo maligno ganhe força”, ela não se desespera. Com a paciência de Asellus Australis e a sabedoria de seu mapa, ela age. De volta ao caldeirão, em meio a uma “bruma fétida” que inunda o ar, ela entoa “cantos antigos com o objetivo de anestesiar e adormecer a mata“. E, enquanto o faz, repete para si mesma o mantra que é sua maior ferramenta de poder, a âncora que a impede de se perder nas trevas que se avizinham. Protéa é, portanto, a personificação da sabedoria selvagem e ancestral. Ela é a curandeira que conhece os ciclos, a guardiã que não se dobra ao medo e a mentora que, mesmo com poderes limitados, usa seu conhecimento profundo para proteger a vida. É ela quem tece, a partir do seu mundo atemporal, os fios que guiarão Catarina em sua jornada de volta à própria alma.
Se Protéa é a alma ancestral que zela pelo destino, Catarina é o Sol, a força jovem e impulsiva cuja crise existencial desencadeia a trama de La Bruja. Este universo não é apenas uma fantasia; é uma descida ao coração da psique de uma jovem que, aos 16 anos, se encontra no limiar da depressão.A …
Depois de vislumbrarmos o instante em que os mundos de Protéa e Catarina se tocaram sob a sombra do eclipse, é hora de mergulharmos nas profundezas de quem são essas protagonistas. Começamos com a figura que é o ponto de ancoragem de toda a narrativa, a alma ancestral que zela pela teia do tempo: Protéa. …
Na narrativa de La Bruja, dois mundos se entrelaçam durante o eclipse solar de 12 de agosto de 2026. Este evento, situado astrológica e simbolicamente na Casa 8, impulsiona uma crise de escuridão e morte, reverberando nas vidas de Catarina e Protéa. A presença de Saturno articula uma resolução ancestral, moldando a trama e os conflitos a serem explorados.
Em um cenário entrelaçado, Protéa, sacerdotisa em uma floresta atemporal, percebe sinais de um mal iminente, enquanto Catarina, uma adolescente, vive experiências estranhas em um Jardim Botânico. Ambas conectadas por uma sabedoria ancestral, sentem a proximidade de um eclipse que pode fraturar suas realidades interligadas.
Na nossa primeira incursão no processo de La Bruja, testemunhamos o instante em que dois mundos se tocam. Vimos Protéa, na sua floresta, preocupada com um “assentamento de tempo”, e Catarina, num parque urbano, sendo seguida por sombras e ouvindo um sussurro que a chamava pelo nome. O fio invisível que une estes dois momentos, a força que está prestes a abalar as suas realidades, é um evento real: o eclipse total do Sol de 12 de agosto de 2026.
Este evento não é apenas o pano de fundo da história; ele é a sua semente, o seu DNA. Antes de qualquer personagem ser concebido, este mapa foi eleito como o “mapa fundamental“, o ponto de partida a partir do qual toda a trama, tempo, espaço, conflito e protagonistas, seria construída. Vamos observar juntos este céu que dispara a história.
O Cenário do Conflito: A Casa 8, o Portão do Hades
A primeira coisa que nos chama a atenção no mapa do eclipse, levantado para as 14h36 do dia 12 de agosto de 2026, é o seu palco. O Sol e a Lua encontram-se no 20º grau de Leão, e este encontro ocorre na Casa 8.
Na tradição astrológica, um eclipse já é, por si só, um “fenômeno perturbador da ordem celeste”, um presságio de catástrofes. Quando ele acontece na Casa 8, o seu potencial dramático é amplificado ao extremo. Esta é uma Casa “desprovida de luz, escura e sombria”, associada aos mortos e conhecida como o “portão de entrada do Hades”. É o lugar onde o Sol, o doador da vida, simbolicamente morre todos os dias ao iniciar o seu mergulho para o submundo.
Este cenário astrológico fornece a atmosfera exata para a nossa história: o eclipse não trará apenas uma escuridão física, mas arrastará tanto a floresta quanto Catarina para um cenário de “aflições, perdas, lutos, angústias e preocupações”.
O mapa revela que os nossos protagonistas já estão reunidos neste palco sombrio. Juntamente com o Sol (Catarina) e a Lua (a floresta/alma), encontramos na mesma Casa 8 os planetas Júpiter (Protéa, a bruxa-sacerdotisa) e Mercúrio (um animal mensageiro, o gato Deimos). Esta reunião de forças na casa da morte indica que todos os elementos centrais da trama estão intrinsecamente ligados a este evento de crise e transformação.
O eclipse acontece no signo de Leão, um “signo animal”, o que, segundo o astrólogo antigo Rhetorius, “causará danos em terras e animais selvagens”. Esta é a correspondência direta com a “noite sem fim” que se abate sobre a floresta de sequoias e com a doença que se espalha entre os seus habitantes.
O Acordo Ancestral: A Mão de Saturno
O mapa revela, no entanto, que este não é um evento de caos aleatório. A força mais poderosa e antiga da nossa história também está presente, a reger o drama por trás das cortinas: Saturno.
Saturno, o “grande maléfico”, está posicionado na Casa 4, a casa dos ancestrais, do pai e “do pó de onde viemos e para onde voltaremos”, e aspecta o grau do eclipse por um trígono. Na linguagem astrológica, um trígono é um aspecto de harmonia, de cooperação. A interpretação para a nossa trama é crucial: há um “acordo” entre a força ancestral (Saturno) e o evento do eclipse.
Este Saturno está retrógrado no signo de Áries, o que sugere “um retorno de situações ancestrais que devem ser finalizadas para dar início a um novo ciclo”. Ele representa a voz da ancestral, Ayvu Aramê/Theresia Greus, que usa a ocorrência do eclipse para quebrar um ciclo de dor de sete gerações.
Além disso, a presença de Saturno neste “acordo” tem consequências diretas. A tradição afirma que, quando Saturno aspecta um eclipse, ele causa “doenças saturninas e mortes”. Entre as doenças saturninas, encontramos a depressão, os envenenamentos e a asfixia. É exatamente isto que acontece na história: Catarina é arrastada para um quadro de profunda depressão, e a floresta é mergulhada numa “névoa tóxica”.
O mapa fundamental, portanto, não é apenas um ponto de partida. Ele é a sinopse completa de La Bruja, escrita na linguagem do céu. Ele nos mostra:
• O Conflito: Uma crise de escuridão e morte (Eclipse na Casa 8).
• O Cenário: Uma terra selvagem que adoece (Signo de Leão).
• Os Protagonistas: A menina, sua alma e sua guia, todas reunidas no coração do problema (Conjunção em Leão).
• A Causa Oculta: Um trauma ancestral que exige resolução e que usa o próprio eclipse como ferramenta (Saturno em trígono da Casa 4).
Nas próximas entradas do nosso Compêndio, iremos nos aprofundar nos mapas individuais das personagens que nasceram sob a influência deste poderoso e fatídico evento. Começaremos com a guardiã que o observava desde a sua janela circular: Protéa.
Este conteúdo faz parte do universo La Bruja. É destinado a uso pessoal e não pode ser reproduzido sem autorização. A partir da quinta publicação, apenas assinantes terão acesso exclusivo.
Se Protéa é a alma ancestral que zela pelo destino, Catarina é o Sol, a força jovem e impulsiva cuja crise existencial desencadeia a trama de La Bruja. Este universo não é apenas uma fantasia; é uma descida ao coração da psique de uma jovem que, aos 16 anos, se encontra no limiar da depressão.A …
Depois de vislumbrarmos o instante em que os mundos de Protéa e Catarina se tocaram sob a sombra do eclipse, é hora de mergulharmos nas profundezas de quem são essas protagonistas. Começamos com a figura que é o ponto de ancoragem de toda a narrativa, a alma ancestral que zela pela teia do tempo: Protéa. …
Na narrativa de La Bruja, dois mundos se entrelaçam durante o eclipse solar de 12 de agosto de 2026. Este evento, situado astrológica e simbolicamente na Casa 8, impulsiona uma crise de escuridão e morte, reverberando nas vidas de Catarina e Protéa. A presença de Saturno articula uma resolução ancestral, moldando a trama e os conflitos a serem explorados.
Em um cenário entrelaçado, Protéa, sacerdotisa em uma floresta atemporal, percebe sinais de um mal iminente, enquanto Catarina, uma adolescente, vive experiências estranhas em um Jardim Botânico. Ambas conectadas por uma sabedoria ancestral, sentem a proximidade de um eclipse que pode fraturar suas realidades interligadas.
Na manhã de 12 de agosto de 2026, Protéa, a sacerdotisa, observa o céu através de sua janela circular. Algo em suas mandalas parece incorreto. Mais cedo, ouviu-se o som de uma pedra rolando pelo despenhadeiro, um sinal claro de um “assentamento de tempo“. O ar sofre de um tipo de paralisia; não há vento, mas as folhas das árvores farfalham estranhamente, como se estivessem se comunicando.
Protéa conhece os sinais. “Nenhuma pedra rola por acaso”, e a que rolou esta manhã bloqueou o já escasso filete d’água no fundo do precipício. Ela sabe que a combinação de oráculos e a magnitude dos planetas envolvidos no eclipse que se aproxima sugerem que algo maligno ganhará força. O tempo, para ela, não existe como o conhecemos. No entanto, sua função está ancorada na Terra, e suas habilidades são restritas. Às vezes, como agora, “é possível prever somente o sintoma, não a causa”.
O ar adensa-se, inundado por uma “bruma fétida”. De volta ao caldeirão, ela entoa cantos antigos para adormecer a mata, repetindo para si mesma como um mantra: “Sempre que entrar nas profundezas, pense nas alturas”.
Imagens de referência para a floresta – fonte: Pinterest
O Jardim Botânico
Ao mesmo tempo, a milhares de quilômetros de distância, uma adolescente chamada Catarina caminha por sua rota preferida no Jardim Botânico. Ela se demora a observar as sequoias, os seres vivos mais antigos do planeta. Suas raízes pouco profundas se espalham e se entrelaçam, formando uma “rede intrincada de cooperação mútua”. É ali, nesse emaranhado, que há algum tempo Catarina tem vislumbrado o que ela chama de loba: uma “criatura cinza, etérea e esquálida” que aparece em sua visão periférica.
Imagens de referência para o Jardim Botânico – fonte: Pinterest
A presença da loba é sentida no corpo, “como uma pressão na caixa torácica, mas disforme, sem palavras que possam descrevê-lo”. Catarina se sente como aquela “raiz desgarrada de sequoia”, que se afasta da rede sem que as outras reparem. De repente, um ruído que parece vir de dentro da fonte soa como o “desprender de uma pedra que rola descendo as paredes de um precipício”. Alguém sussurra seu nome, e a loba se agita.
Imagens de referência para a Loba – fonte: Pinterest
É hora de voltar para casa. A noite chegará mais cedo, hoje. Mas o caminho está inexplicavelmente vazio. Próximo à cerca da mata preservada, os animais caminham ao lado dela, quase mimetizando suas atitudes. Uma sombra se move em espiral junto com ela. De repente, um par de olhos cor de âmbar a encara a milímetros de seu rosto. Ela corre, e na saída do parque, encontra uma placa que nunca tinha visto: “Sempre que entrar nas profundezas, pense nas alturas”.
Dois mundos, duas mulheres, um único instante. Uma sacerdotisa em uma dimensão atemporal e uma adolescente em nosso tempo, ambas sentindo os mesmos sinais, o mesmo tremor na teia da existência. A sabedoria ancestral de La Bruja nos ensina que “tudo o que existe, existe a partir do seu duplo”. A floresta e o parque, a bruxa e a menina, são reflexos um do outro, partes de uma mesma alma que o eclipse está prestes a fraturar.
Imagem de referência para o abismo que separa as duas – fonte: Pinterest
O que é o fio invisível que conecta estas duas vidas? A resposta está escrita no céu.
Um Convite à Criação: Astrologia como Linguagem e Oráculo
Este projeto é um resgate da “arte de contar histórias a partir do céu”. Aqui, a astrologia não é um tema, mas um idioma ancestral, uma linguagem que nos permite traduzir a dramaturgia celeste em narrativa. As civilizações antigas sabiam que os mitos não são meras fábulas, mas registros cifrados de eventos astronômicos, e que o céu é um livro vivo, cujas páginas se renovam a cada ciclo.
Ao acompanhar a construção de La Bruja, você não irá apenas memorizar símbolos; você irá testemunhar a transmutação do céu em enredo. Em vez de um curso tradicional, este espaço oferece uma imersão na poética astrológica: você verá como um mapa astral, esse “registro mnemônico da memória do mundo”, se desdobra para revelar a imagem central que guia a vida de uma personagem.
Mais do que isso, este livro é um oráculo em construção. Como ensina a tradição, “ler um oráculo equivale a fabricar um mundo com palavras”. Ao se tornar um assinante, você não apenas colabora para a concretização desta obra, mas participa ativamente dessa “fabricação”. Você terá acesso a um espaço exclusivo onde poderá acompanhar o processo de “desembaraçar os fios da tecedura das Moiras” e ver como, ao recriar a sorte de uma personagem, “reinventa-se o mundo. Cura-se o mundo”.
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Este conteúdo faz parte do universo La Bruja. É destinado a uso pessoal e não pode ser reproduzido sem autorização. A partir da quinta publicação, apenas assinantes terão acesso exclusivo.
Se Protéa é a alma ancestral que zela pelo destino, Catarina é o Sol, a força jovem e impulsiva cuja crise existencial desencadeia a trama de La Bruja. Este universo não é apenas uma fantasia; é uma descida ao coração da psique de uma jovem que, aos 16 anos, se encontra no limiar da depressão.A …
Depois de vislumbrarmos o instante em que os mundos de Protéa e Catarina se tocaram sob a sombra do eclipse, é hora de mergulharmos nas profundezas de quem são essas protagonistas. Começamos com a figura que é o ponto de ancoragem de toda a narrativa, a alma ancestral que zela pela teia do tempo: Protéa. …
Na narrativa de La Bruja, dois mundos se entrelaçam durante o eclipse solar de 12 de agosto de 2026. Este evento, situado astrológica e simbolicamente na Casa 8, impulsiona uma crise de escuridão e morte, reverberando nas vidas de Catarina e Protéa. A presença de Saturno articula uma resolução ancestral, moldando a trama e os conflitos a serem explorados.
Em um cenário entrelaçado, Protéa, sacerdotisa em uma floresta atemporal, percebe sinais de um mal iminente, enquanto Catarina, uma adolescente, vive experiências estranhas em um Jardim Botânico. Ambas conectadas por uma sabedoria ancestral, sentem a proximidade de um eclipse que pode fraturar suas realidades interligadas.
Hoje, na minha cidade, o Sol nasceu às seis horas e dois minutos. Esse dado simples indica que o início do dia astrológico se deu às 06h02 e terminará apenas quando o Sol nascer novamente amanhã. O dia astrológico difere do dia do relógio porque é o Sol quem divide o tempo entre dia e noite, quem dita as regras, quem determina o início e o fim de cada ciclo. Se é ele quem marca o começo e o encerramento, é natural concluir que o dia só pode existir de fato quando o Sol desponta no horizonte leste.
O horizonte leste, por ser o local onde o Sol nasce, é chamado de Ascendente. Todos os signos e planetas que cruzam essa linha estão ascendendo, isto é, nascendo. O Ascendente está ligado ao movimento de rotação da Terra e, portanto, é percorrido por todo o zodíaco em um intervalo de 24 horas. Em uma conta básica, a cada duas horas, em média, um novo signo desponta no horizonte. Por isso é tão importante saber o horário exato de nascimento de uma pessoa: para identificar qual signo estava ascendendo, se havia algum planeta nesse ponto e, por conseguinte, quem nasceu junto com ela no horizonte. Mas por que isso é importante? Porque aquilo que nasce junto com você fala de você. O signo solar é, sem dúvida, fundamental, mas quem descreve o momento exato do nascimento é o Ascendente.
Tomemos como exemplo o céu de hoje ao nascer do Sol. O Sol está em Virgem, logo, quando ele cruzou o horizonte, o signo que ascendia também era Virgem. O que Virgem nos diz sobre o Sol? O Sol é o marcador das estações do ano, e Virgem, signo mutável, assinala o fim do verão. É o signo que antecede Libra, signo cardinal. Os mutáveis indicam transição de uma estação para outra, enquanto os cardinais marcam o início. Nesse caso, Libra anuncia o começo do outono no hemisfério norte e da primavera no hemisfério sul. Como a astrologia se estruturou a partir da observação no hemisfério norte, o simbolismo é mantido na interpretação. Assim, consideramos Libra como o signo que inaugura o outono.
Essas observações são importantes porque cada uma delas é um fio narrativo na trama do tempo e do destino. Um Ascendente mutável, por exemplo, traz a marca de não se apegar à ordem estabelecida. Ele sabe que tudo é passageiro, que a mudança é uma regra. O Ascendente em Virgem promete o fim da abundância, por isso é um signo associado à organização, pois ele prevê dias difíceis e é preciso traçar estratégias de sobrevivência, sobretudo no que diz respeito à preservação dos alimentos, como os grãos.
Voltando ao dia de hoje, vemos que Saturno, o grande maléfico, está no grau 28 de Peixes, signo oposto a Virgem, muito próximo do grau 23 do Sol. Isso significa que Saturno se encontra em frente ao Sol. Essa oposição terá seu ápice no dia 21, pouco antes do eclipse solar. O movimento do Sol em direção à oposição com Saturno nos revela outro dado interessante: assim que o Sol se levanta, Saturno se põe. E quando o Sol se põe, Saturno se levanta. Saturno tem sido, já há alguns dias, o primeiro planeta a nascer logo após a morte do Sol. É ele quem tem puxado o fio dos dias seguintes. Não por acaso, temos vivido jornadas densas, pesadas, tristonhas, muitas vezes chorosas. Saturno em Peixes arrasta o tempo para dentro das águas profundas, em terreno incerto e lodoso, onde as estruturas não encontram firmeza para se fixarem.
Essa condição, porém, não é definitiva. Após o dia 21, o Sol ultrapassa o grau de Saturno e começa a se afastar da oposição. Saturno deixa de estar à frente do Sol e passa a caminhar atrás dele. Os dias passam a ter outro condutor, dessa vez um benéfico, o maior dos benéficos: Júpiter, que se encontra em Câncer, signo da sua exaltação. Com o grande benéfico exaltado, teremos uma atmosfera mais temperada, suave, fértil e em expansão. Dias melhores virão.
Charles Dickens, em uma nota que agora tenho diante de mim, aludindo a uma análise que fiz do mecanismo de “Barnaby Rudge”, diz: “A propósito, você sabia que Godwin escreveu seu ‘Caleb Williams’ de trás para frente? Ele primeiro envolveu seu herói em uma teia de dificuldades, formando o segundo volume, e então, para o primeiro, buscou alguma forma de explicar o que havia sido feito.”
Não posso acreditar que este seja o modo preciso de procedimento por parte de Godwin — e, de fato, o que ele próprio reconhece não está totalmente de acordo com a ideia do Sr. Dickens —, mas o autor de “Caleb Williams” era um artista bom demais para não perceber a vantagem derivada de um processo ao menos um pouco semelhante. Nada é mais claro do que o fato de que todo enredo, digno desse nome, deve ser elaborado até seu desfecho antes que qualquer coisa seja tentada com a caneta. É somente com o desfecho constantemente em vista que podemos dar a um enredo seu indispensável ar de consequência, ou causalidade, fazendo com que os incidentes, e especialmente o tom em todos os pontos, tendam ao desenvolvimento da intenção.
Há um erro radical, creio eu, no modo usual de construir uma história. Ou a história oferece uma tese — ou uma é sugerida por um incidente do dia — ou, na melhor das hipóteses, o autor se dedica a combinar eventos marcantes para formar apenas a base de sua narrativa — planejando, em geral, preencher com descrição, diálogo ou comentário autoral quaisquer lacunas de fato ou ação que, página a página, se tornem aparentes.
Prefiro começar pela consideração de um efeito. Mantendo a originalidade sempre em vista — pois é falso consigo mesmo quem se aventura a dispensar uma fonte de interesse tão óbvia e tão facilmente alcançável —, digo a mim mesmo, em primeiro lugar: “Dos inúmeros efeitos ou impressões aos quais o coração, o intelecto ou (mais genericamente) a alma é suscetível, qual devo, nesta ocasião, selecionar?” Tendo escolhido um romance, primeiro, e em segundo lugar um efeito vívido, considero se ele pode ser melhor trabalhado por incidente ou tom — se por incidentes comuns e tom peculiar, ou o inverso, ou pela peculiaridade tanto do incidente quanto do tom —, depois, olhando ao meu redor (ou melhor, dentro de mim) em busca de combinações de evento ou tom que melhor me ajudem na construção do efeito.
Muitas vezes pensei em como um artigo de revista poderia ser interessante, escrito por qualquer autor que quisesse — isto é, que pudesse — detalhar, passo a passo, os processos pelos quais qualquer uma de suas composições atingiu seu ponto final de conclusão. Por que tal artigo nunca foi divulgado, não sei bem dizer — mas, talvez, a vaidade autoral tenha tido mais a ver com a omissão do que com qualquer outra causa. A maioria dos escritores — poetas em especial — prefere que se entenda que eles compõem por uma espécie de frenesi refinado — uma intuição extática — e estremeceriam positivamente ao deixar o público dar uma espiada nos bastidores, nas elaboradas e vacilantes cruezas do pensamento — nos verdadeiros propósitos apreendidos apenas no último momento — nos inúmeros vislumbres de ideias que não chegaram à maturidade da visão completa — nas fantasias totalmente amadurecidas descartadas em desespero como incontroláveis — nas seleções e rejeições cautelosas — nas dolorosas rasuras e interpolações — em uma palavra, nas rodas e pinhões — nos equipamentos para mudança de cena — nas escadas e armadilhas para demônios — nas penas de galo, na tinta vermelha e nas manchas pretas, que, em noventa e nove casos em cem, constituem as propriedades da história literária.
Estou ciente, por outro lado, de que não é comum o caso em que um autor esteja em condições de refazer os passos pelos quais chegou às suas conclusões. Em geral, sugestões que surgem desordenadamente são perseguidas e esquecidas de maneira semelhante.
De minha parte, não tenho simpatia pela repugnância a que se alude, nem, em nenhum momento, a menor dificuldade em recordar os passos progressivos de qualquer uma de minhas composições e, uma vez que o interesse de uma análise ou reconstrução, tal como considerei um desiderato, é totalmente independente de qualquer interesse real ou imaginário na coisa analisada, não será considerado uma quebra de decoro de minha parte mostrar o modus operandi pelo qual alguma de minhas próprias obras foi elaborada. Escolhi ” O Corvo ” como a mais conhecida. É meu propósito deixar claro que nenhum ponto em sua composição é atribuível a acidente ou intuição — que a obra prosseguiu passo a passo, até sua conclusão, com a precisão e a rígida consequência de um problema matemático.
Vamos descartar, como irrelevante para o poema, per se, a circunstância — ou melhor, a necessidade — que, em primeiro lugar, deu origem à intenção de compor um poema que atendesse ao mesmo tempo ao gosto popular e crítico.
Começamos, então, com esta intenção.
A consideração inicial foi a da extensão. Se qualquer obra literária for longa demais para ser lida de uma só vez, devemos nos contentar em dispensar o efeito imensamente importante derivável da unidade de impressão — pois, se duas sessões forem necessárias, os assuntos do mundo interferem, e tudo, como a totalidade, é imediatamente destruído. Mas, uma vez que, ceteris paribus , nenhum poeta pode se dar ao luxo de dispensar qualquer coisa que possa promover seu desígnio, resta saber se há, em extensão, alguma vantagem para contrabalançar a perda de unidade que a acompanha. Aqui digo não, de uma só vez. O que chamamos de poema longo é, na verdade, meramente uma sucessão de poemas breves — isto é, de breves efeitos poéticos. É desnecessário demonstrar que um poema o é apenas na medida em que excita intensamente, elevando a alma; e todas as excitações intensas são, por uma necessidade psíquica, breves. Por essa razão, pelo menos, metade do Paraíso Perdido é essencialmente prosa — uma sucessão de excitações poéticas intercaladas, inevitavelmente, com depressões correspondentes — sendo o todo privado, devido à extrema extensão, do elemento artístico extremamente importante, a totalidade ou unidade de efeito.
Parece evidente, então, que existe um limite distinto, em termos de extensão, para todas as obras de arte literária — o limite de uma única sessão — e que, embora em certas classes de composição em prosa, como Robinson Crusoé (que não exige unidade), esse limite possa ser vantajosamente superado, nunca poderá ser adequadamente superado em um poema. Dentro desse limite, a extensão de um poema pode ser matematicamente relacionada ao seu mérito — em outras palavras, à excitação ou elevação — novamente, em outras palavras, ao grau do verdadeiro efeito poético que ele é capaz de induzir; pois é claro que a brevidade deve estar em razão direta da intensidade do efeito pretendido — isto, com uma ressalva — que um certo grau de duração é absolutamente necessário para a produção de qualquer efeito.
Levando em conta essas considerações, bem como aquele grau de entusiasmo que considerei não acima do gosto popular, mas também não abaixo do gosto crítico, cheguei imediatamente ao que considerei ser o comprimento adequado para o meu poema pretendido — cerca de cem versos. São, na verdade, cento e oito.
Meu próximo pensamento foi sobre a escolha de uma impressão, ou efeito, a ser transmitido: e aqui posso também observar que, ao longo da construção, mantive firmemente em vista o propósito de tornar a obra universalmente apreciável. Eu me desviaria demais do meu tema imediato se demonstrasse um ponto em que tenho insistido repetidamente e que, junto com o poético, não tem a menor necessidade de demonstração — o ponto, quero dizer, de que a Beleza é a única província legítima do poema. Algumas palavras, no entanto, para elucidar meu real significado, que alguns de meus amigos demonstraram uma tendência a deturpar. Aquele prazer que é ao mesmo tempo o mais intenso, o mais sublime e o mais puro é, creio eu, encontrado na contemplação do belo. Quando, de fato, os homens falam de Beleza, referem-se, precisamente, não a uma qualidade, como se supõe, mas a um efeito — referem-se, em suma, justamente àquela intensa e pura elevação da alma — não do intelecto, nem do coração — sobre a qual comentei, e que é experimentada em consequência da contemplação do “belo”. Ora, designo a Beleza como a província do poema, meramente porque é uma regra óbvia da Arte que os efeitos devem surgir de causas diretas — que os objetos devem ser alcançados por meios mais adequados para sua obtenção — ninguém, até então, tendo sido fraco o suficiente para negar que a elevação peculiar aludida é mais facilmente alcançada no poema. Ora, o objeto Verdade, ou a satisfação do intelecto, e o objeto Paixão, ou a excitação do coração, são, embora atingíveis até certo ponto na poesia, muito mais facilmente atingíveis na prosa. A Verdade, de fato, exige precisão, e a Paixão, simplicidade (os verdadeiramente apaixonados me compreenderão), que são absolutamente antagônicas àquela Beleza que, afirmo, é a excitação ou elevação prazerosa da alma. De modo algum se segue, de tudo o que foi dito aqui, que a paixão, ou mesmo a verdade, não possam ser introduzidas, e até mesmo proveitosamente, em um poema, pois podem servir para elucidar ou auxiliar o efeito geral, como as dissonâncias na música, por contraste — mas o verdadeiro artista sempre se esforçará, primeiro, para ajustá-las ao tom adequado ao objetivo predominante e, segundo, para envolvê-las, tanto quanto possível, naquela Beleza que é a atmosfera e a essência do poema.
Considerando, então, a Beleza como minha província, minha próxima pergunta referia-se ao tom de sua manifestação mais elevada — e toda a experiência demonstrou que esse tom é de tristeza. A beleza, de qualquer tipo, em seu desenvolvimento supremo, invariavelmente excita a alma sensível até as lágrimas. A melancolia é, portanto, o mais legítimo de todos os tons poéticos.
Determinados assim a extensão, o escopo e o tom, dediquei-me à indução ordinária, com o objetivo de obter alguma picância artística que pudesse me servir como nota-chave na construção do poema — algum eixo sobre o qual toda a estrutura pudesse girar. Ao refletir cuidadosamente sobre todos os efeitos artísticos usuais — ou, mais propriamente, pontos, no sentido teatral —, não deixei de perceber imediatamente que nenhum havia sido tão universalmente empregado quanto o do refrão. A universalidade de seu emprego bastou para me assegurar seu valor intrínseco e me poupou da necessidade de submetê-lo à análise. Considerei-o, no entanto, em relação à sua suscetibilidade a aprimoramentos e logo percebi que se encontrava em estado primitivo. Como comumente usado, o refrão, ou fardo, não se limita apenas ao verso lírico, mas depende, para sua impressão, da força da monotonia — tanto no som quanto no pensamento. O prazer é deduzido unicamente do senso de identidade — da repetição. Resolvi diversificar e, assim, intensificar o efeito, aderindo, em geral, à monotonia do som, enquanto variava continuamente a do pensamento: isto é, determinei produzir continuamente efeitos novos, pela variação da aplicação do refrão — o refrão em si permanecendo, na maior parte, inalterado.
Resolvidos esses pontos, pensei em seguida na natureza do meu refrão. Como sua aplicação deveria ser repetidamente variada, era claro que o refrão em si deveria ser breve, pois haveria uma dificuldade insuperável em variações frequentes de aplicação em qualquer frase longa. Proporcional à brevidade da frase, é claro, seria a facilidade da variação. Isso me levou imediatamente a uma única palavra como o melhor refrão.
Surgiu então a questão da natureza da palavra. Tendo me decidido por um refrão, a divisão do poema em estrofes era, naturalmente, um corolário, com o refrão formando o final de cada estrofe. Que tal final, para ter força, deve ser sonoro e suscetível de ênfase prolongada, não havia dúvida, e essas considerações inevitavelmente me levaram ao “o “ longo como a vogal mais sonora em conexão com o “r” como a consoante mais produtiva.
Determinado o som do refrão, tornou-se necessário selecionar uma palavra que incorporasse esse som e, ao mesmo tempo, estivesse em plena sintonia com a melancolia que eu havia predeterminado como o tom do poema. Em tal busca, teria sido absolutamente impossível ignorar a palavra “Nunca Mais”. De fato, foi a primeira que se apresentou.
O próximo desiderato era um pretexto para o uso contínuo da palavra “nunca mais”. Ao observar a dificuldade que imediatamente encontrei em inventar uma razão suficientemente plausível para sua repetição contínua, não deixei de perceber que essa dificuldade surgia unicamente da presunção de que a palavra deveria ser pronunciada de forma tão contínua ou monótona por um ser humano — não deixei de perceber, em suma, que a dificuldade residia na conciliação dessa monotonia com o exercício da razão por parte da criatura que repetia a palavra. Aqui, então, surgiu imediatamente a ideia de uma criatura irracional capaz de falar, e muito naturalmente, um papagaio, em primeira instância, sugeriu-se, mas foi imediatamente substituído por um corvo igualmente capaz de falar, e infinitamente mais em consonância com o tom pretendido.
Eu já havia chegado à concepção de um Corvo, o pássaro do mau agouro, repetindo monotonamente a única palavra “Nunca Mais” ao final de cada estrofe de um poema de tom melancólico, com cerca de cem versos. Agora, sem perder de vista o objeto — supremacia ou perfeição em todos os pontos —, perguntei-me: “De todos os temas melancólicos, qual é, segundo a compreensão universal da humanidade, o mais melancólico?” A morte, foi a resposta óbvia. “E quando”, eu disse, “este, o mais melancólico dos temas, é o mais poético?” Pelo que já expliquei detalhadamente, a resposta aqui também é óbvia: “Quando se alia mais intimamente à Beleza: a morte de uma bela mulher é, portanto, inquestionavelmente o tema mais poético do mundo, e igualmente não há dúvida de que os lábios mais adequados para tal tema são os de um amante enlutado.”
Eu tinha agora que combinar as duas ideias: um amante lamentando sua falecida amante e um corvo repetindo continuamente a palavra “Nunca Mais”. Tinha que combiná-las, tendo em mente meu propósito de variar a cada momento a aplicação da palavra “repetida”, mas o único modo inteligível de tal combinação é imaginar o corvo empregando a palavra em resposta às perguntas do amante. E foi aí que vi imediatamente a oportunidade oferecida para o efeito do qual eu vinha contando, isto é, o efeito da variação da aplicação. Eu vi que eu poderia fazer a primeira pergunta proposta pelo amante — a primeira pergunta à qual o Corvo deveria responder “Nunca mais” — que eu poderia fazer desta primeira pergunta uma pergunta comum, a segunda menos, a terceira ainda menos, e assim por diante, até que finalmente o amante, assustado de sua indiferença original pelo caráter melancólico da própria palavra, por sua repetição frequente e por uma consideração da reputação sinistra da ave que a proferiu, é finalmente excitado à superstição e propõe descontroladamente perguntas de um caráter muito diferente — perguntas cuja solução ele tem apaixonadamente no coração — as propõe meio em superstição e meio naquela espécie de desespero que se deleita na autotortura — as propõe não totalmente porque ele acredita no caráter profético ou demoníaco do pássaro (que a razão lhe assegura que é apenas repetir uma lição aprendida de cor), mas porque ele experimenta um prazer frenético em modelar suas perguntas de modo a receber do esperado “Nunca mais” o mais delicioso porque o mais intolerável de tristezas. Percebendo a oportunidade assim me oferecida, ou, mais precisamente, assim imposta a mim no decorrer da construção, primeiro estabeleci em minha mente o clímax ou a pergunta final — aquela pergunta para a qual “Nunca Mais” deveria ser, em última análise, uma resposta — aquela pergunta em resposta à qual esta palavra “Nunca Mais” deveria envolver a maior quantidade concebível de tristeza e desespero.
Aqui, então, pode-se dizer que o poema teve seu início — no fim, onde todas as obras de arte deveriam começar — pois foi aqui, neste ponto de minhas pré-considerações, que coloquei a caneta no papel pela primeira vez na composição da estrofe:
“Profeta!”, disse eu, “coisa do mal! Profeta ainda, pássaro ou demônio!Por aquele Céu que se curva sobre nós — por aquele Deus que ambos adoramos,Diga a esta alma carregada de tristeza, se, dentro do distante Aidenn,Ela abraçará uma donzela santa a quem os anjos chamam de Lenore —Abraçará uma donzela rara e radiante a quem os anjos chamam de Lenore.”Disse o Corvo — “Nunca mais.”
Compus esta estrofe, neste ponto, primeiro para que, ao estabelecer o clímax, pudesse variar e graduar melhor, em termos de seriedade e importância, as perguntas precedentes do amante; e, segundo, para que pudesse estabelecer definitivamente o ritmo, a métrica, a extensão e o arranjo geral da estrofe, bem como graduar as estrofes que a precederiam, de modo que nenhuma delas superasse esta em efeito rítmico. Se eu tivesse conseguido, na composição subsequente, construir estrofes mais vigorosas, sem escrúpulos, tê-las-ia enfraquecido propositalmente para não interferir no efeito climático.
E aqui posso também dizer algumas palavras sobre a versificação. Meu primeiro objetivo (como sempre) foi a originalidade. A extensão em que isso foi negligenciado na versificação é uma das coisas mais inexplicáveis do mundo. Admitindo que há pouca possibilidade de variedade no mero ritmo, ainda é claro que as variedades possíveis de métrica e estrofe são absolutamente infinitas, e, no entanto, durante séculos, nenhum homem, em verso, jamais fez, ou jamais pareceu pensar em fazer, algo original. O fato é que a originalidade (a menos que em mentes de força muito incomum) não é de forma alguma uma questão, como alguns supõem, de impulso ou intuição. Em geral, para ser encontrada, deve ser elaboradamente buscada e, embora seja um mérito positivo da mais alta classe, exige, em sua obtenção, menos invenção do que negação.
É claro que não pretendo nenhuma originalidade nem no ritmo nem na métrica de “O Corvo”. O primeiro é trocaico — o último é octâmetro acatalético, alternando com heptâmetro catalético repetido no refrão do quinto verso e terminando com tetrâmetro catalético. De forma menos pedante, os pés empregados ao longo do texto (troqueus) consistem em uma sílaba longa seguida por uma curta; o primeiro verso da estrofe consiste em oito desses pés, o segundo em sete e meio (na verdade, dois terços), o terceiro em oito, o quarto em sete e meio, o quinto o mesmo, o sexto em três e meio. Ora, cada um desses versos, tomados individualmente, já foi empregado antes, e a originalidade de “O Corvo” reside em sua combinação em estrofe; nada que se aproxime remotamente disso jamais foi tentado. O efeito dessa originalidade de combinação é auxiliado por outros efeitos incomuns e alguns completamente novos, decorrentes de uma extensão da aplicação dos princípios da rima e da aliteração.
O próximo ponto a ser considerado era o modo de aproximar o amante e o Corvo — e o primeiro aspecto dessa consideração era o local. Para isso, a sugestão mais natural poderia parecer uma floresta ou os campos — mas sempre me pareceu que uma circunscrição espacial precisa é absolutamente necessária para o efeito de um incidente isolado — tem a força de uma moldura para um quadro. Tem um poder moral indiscutível para manter a atenção concentrada e, claro, não deve ser confundida com a mera unidade de lugar.
Decidi, então, colocar o amante em seu quarto — um quarto que lhe foi sagrado pelas lembranças daquela que o frequentara. O quarto é representado como ricamente mobiliado — isso em mera observância das ideias que já expliquei sobre o tema da Beleza, como a única tese poética verdadeira.
Determinado o local, eu precisava agora apresentar o pássaro — e a ideia de apresentá-lo pela janela era inevitável. A ideia de fazer o amante supor, em primeira instância, que o bater das asas do pássaro contra a veneziana é uma “batida” na porta, originou-se do desejo de aumentar, prolongando, a curiosidade do leitor, e do desejo de admitir o efeito incidental decorrente do amante abrir a porta, encontrando tudo escuro e, portanto, adotando a quase fantasia de que era o espírito de sua amada quem batia.
Tornei a noite tempestuosa, primeiro para justificar a busca de admissão do Corvo e, segundo, pelo efeito de contraste com a serenidade (física) dentro da câmara.
Fiz o pássaro pousar no busto de Palas, também pelo efeito de contraste entre o mármore e a plumagem — entendendo-se que o busto foi absolutamente sugerido pelo pássaro — o busto de Palas foi escolhido, primeiro, por ser o mais condizente com a erudição do amante e, segundo, pela sonoridade da própria palavra Palas.
Mais ou menos na metade do poema, também me aproveitei da força do contraste, com o objetivo de aprofundar a impressão final. Por exemplo, um ar de fantasia — aproximando-se o mais possível do ridículo — é dado à entrada do Corvo. Ele entra “com muitos flertes e adeptos”.
Ele não prestou a menor reverência, nem parou ou ficou parado um momento sequer,mas com semblante de senhor ou senhora, pousou acima da porta do meu quarto.
Nas duas estrofes que se seguem, o desígnio é executado de forma mais óbvia:
Então este pássaro de ébano, seduzindo minha triste fantasia a sorrirPelo decoro grave e severo do semblante que ostentava,”Embora tua crista esteja tosquiada e barbeada, tu”, eu disse, “certamente não és covarde,Corvo medonho, sombrio e antigo vagando pela costa Noturna— Diga-me qual é teu nome senhorial na costa Plutoniana da Noite?”Disse o Corvo — “Nunca mais.”
Fiquei muito admirado com esta ave desajeitada ao ouvir o discurso tão claramente,Embora sua resposta tivesse pouco significado — pouca relevância;Pois não podemos deixar de concordar que nenhum ser humano vivojamais foi abençoado com a visão de um pássaro sobre a porta de seu quarto —Pássaro ou animal no busto esculpido sobre a porta de seu quarto,Com um nome como “Nunca mais”.
O efeito do desfecho sendo assim providenciado, eu imediatamente abandono o fantástico para um tom da mais profunda seriedade – este tom começando na estrofe imediatamente após a última citada, com o verso,
Mas o Corvo, sentado solitário naquele busto plácido, falava apenas, etc.
A partir dessa época, o amante não brinca mais — não vê mais nada de fantástico no comportamento do Corvo. Fala dele como um “pássaro sombrio, desajeitado, medonho, magro e agourento de outrora” e sente os “olhos ardentes” queimando no “núcleo do seu peito”. Essa revolução de pensamento, ou fantasia, por parte do amante, visa induzir uma semelhante por parte do leitor — para trazer a mente a um estado adequado para o desenlace — que agora se realiza da forma mais rápida e direta possível.
Com o desfecho propriamente dito — com a resposta do Corvo, “Nunca mais”, à exigência final do amante de encontrar sua amada em outro mundo —, o poema, em sua fase óbvia, a de uma narrativa simples, pode ser considerado completo. Até aqui, tudo está dentro dos limites do explicável — do real. Um corvo, tendo aprendido de cor a única palavra “Nunca mais” e tendo escapado da custódia de seu dono, é impelido à meia-noite, pela violência de uma tempestade, a buscar entrada em uma janela de onde ainda brilha uma luz — a janela do quarto de um estudante, ocupado meio debruçado sobre um volume, meio sonhando com a falecida amante. A janela sendo aberta ao bater das asas do pássaro, o próprio pássaro pousa no assento mais conveniente, fora do alcance imediato do estudante, que, divertido com o incidente e a estranheza do comportamento do visitante, exige dele, de brincadeira e sem esperar resposta, seu nome. O corvo abordado responde com sua palavra costumeira, “Nunca mais” — uma palavra que encontra eco imediato no coração melancólico do estudante, que, expressando em voz alta certos pensamentos sugeridos pela ocasião, é novamente surpreendido pela repetição da ave de “Nunca mais”. O estudante agora adivinha o estado do caso, mas é impelido, como expliquei antes, pela sede humana de autotortura e, em parte, pela superstição, a propor tais perguntas ao pássaro que lhe trarão, o amante, o máximo do luxo da tristeza, por meio da resposta antecipada, “Nunca mais”. Com a indulgência, ao extremo, dessa autotortura, a narração, no que chamei de sua primeira ou óbvia fase, tem um término natural, e até agora não houve ultrapassagem dos limites do real.
Mas em assuntos assim tratados, por mais habilidosos que sejam, ou por mais vívidos que sejam os incidentes, há sempre uma certa dureza ou nudez que repele o olhar artístico. Duas coisas são invariavelmente necessárias — primeiro, alguma complexidade, ou mais propriamente, adaptação; e, segundo, alguma sugestividade — alguma subcorrente, por mais indefinida que seja, de significado. É esta última, em especial, que confere a uma obra de arte tanto daquela riqueza (para tomar emprestado do colóquio um termo forte), que gostamos muito de confundir com o ideal. É o excesso do significado sugerido — é a tradução deste como a corrente superior em vez da subcorrente do tema — que transforma a prosa (e aquela do tipo mais superficial), a chamada poesia dos chamados transcendentalistas.
Mantendo essas opiniões, adicionei as duas estrofes finais do poema — sua sugestividade, portanto, permeia toda a narrativa que as precedeu. A corrente subjacente de significado se torna aparente pela primeira vez no verso:
“Tire teu bico do meu coração e tire tua forma da minha porta!”Disse o Corvo “Nunca mais!”
Observa-se que as palavras “do meu coração” envolvem a primeira expressão metafórica do poema. Elas, juntamente com a resposta “Nunca mais”, predispõem a mente a buscar uma moral em tudo o que foi narrado anteriormente. O leitor começa agora a considerar o Corvo como emblemático — mas é somente no último verso da última estrofe que a intenção de torná-lo emblemático da Lembrança Triste e sem fim se torna perceptível:
E o Corvo, nunca voando, ainda está sentado, ainda está sentado,No busto pálido de Palas, logo acima da porta do meu quarto;E seus olhos têm toda a aparência de um demônio que está sonhando,E a luz da lâmpada sobre ele lança sua sombra no chão;E minha alma daquela sombra que jaz flutuando no chãoSerá levantada — nunca mais.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Um ascendente sob a influência de Vênus e com um toque de Marte (por termos). Vênus, a PEQUENA BENÉFICA, encontra-se em Sagitário, signo regido por Júpiter, o GRANDE BENÉFICO. Por signos inteiros, essa Vênus está na oitava casa, um espaço considerado sombrio, pois não é visível ao ascendente e está ligado a temas profundos e desafiadores. No entanto, ao abrirmos o mapa por outro sistema de casas, essa mesma Vênus surge na sétima casa, a casa do outro, uma posição angular e, portanto, muito mais potente.
Mapa astrológico: Vênus em Sagitário na casa 8
Eu sempre escolho interpretar o mapa por signos inteiros, mas não posso ignorar a informação de que, em outro sistema, essa Vênus ganharia uma posição angular. Para mim, ela está na oitava, mas, vez ou outra, faz visitas à sétima.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Diante de configurações como essa, me questiono: por que essa alma precisou ou ainda precisa se esconder? Do que ela foge? Por que se oculta? Que circunstâncias, descritas em seu nascimento, a colocaram lá? E me pergunto também se não é o momento de devolver a essa Vênus a sua angularidade, a sua força.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Afinal, não se trata de uma Vênus qualquer. É de uma Vênus em Sagitário que estamos falando, um signo de fogo. É a Deusa do amor, cavalgando, nas vestes da liberdade e do conhecimento. Ao observar o mapa da Patrícia, a primeira coisa que me veio à mente foi: preciso tirar essa Vênus daí. Preciso devolver a ela a liberdade, a confiança e o fogo que lhe são inerentes. Foi então que, movida por essa necessidade de resgate, sugeri à ela uma sessão de fotos vibrante, colorida, intensa, com tons vermelhos como brasas ardentes. E olha que eu, que sempre prefiro fotos em preto e branco e conheço as dificuldades de trabalhar com o vermelho na fotografia, me vi impulsionada a propor justamente isso.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
A Paty, maravilhosa como sempre, topou na hora. E o resultado foi mágico: cada clique capturou não apenas sua imagem, mas sua essência — a coragem, a intensidade e a força que ela carrega.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Nós, seres humanos, somos essencialmente relacionais, forjados a partir do olhar do outro. É esse olhar que valida ou não a imagem que temos de nós mesmos. Para que eu seja rainha, por exemplo, preciso que os súditos me enxerguem como rainha. Não adianta comprar uma coroa e me intitular rainha se os outros não reconhecerem a soberana em mim. É por isso que a fotografia pode ser uma ferramenta poderosa de empoderamento e libertação. Não há nada mais transformador do que se ver a partir da perspectiva de um outro — especialmente quando essa perspectiva é empática e generosa.
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Aproveito essa deixa para perguntar a você que me lê: a que olhares você tem se submetido? São olhares amorosos ou condenatórios? São perspectivas que torcem por você ou que te subjugam? Que celebram suas conquistas ou menosprezam seus avanços? Meu conselho (se me permite) é: escolha os olhares que te acolhem e validam. Escolha estar perto de pessoas generosas e amorosas, que não se sentem ameaçadas pelo seu brilho, ao contrário, que se inspiram em você para brilhar também. Você tem o direito de escolher quem caminha ao seu lado.
O resgate da Vênus – foto: Autorretrato com Patrícia Dorileo
Meu desejo é que essa experiência fotográfica tenha mostrado à Paty, mesmo que seja apenas uma fração, o encantamento que ela é capaz de produzir. Que ela possa carregar consigo a certeza de que sua coragem não apenas existe, mas contagia todos ao seu redor.
Edna
O resgate da Vênus – foto: Edna Froes | modelo: Patrícia Dorileo
Desvendando narrativas através da fotografia e da astrologia
Diziam os antigos que, antes de nascermos, antes de atravessarmos o rio do esquecimento, nos é permitido escolher quem narrará nossa história. A maioria de nós escolhe um só narrador, embarca na travessia de Caronte e desce à Terra por um dos doze portais. Mas há almas que, seja por dúvida ou por destinarem-se a caminhos mais intricados, não se contentam com um único contador de histórias. Escolhem logo dois, três, talvez mais. E é assim com a Dani.
Suspeito que ela, com seu ascendente em Virgem, quis assegurar que nenhum detalhe escapasse. Por isso, escolheu não um, mas três Almútens — narradores —, incluindo a si mesma, para tecer sua história. E agora me pergunto: como três vozes coexistem ao contar a mesma vida? Cada uma traz sua versão? Competem entre si, defendendo suas verdades? Ou será que se alternam, cada uma assumindo o fio narrativo em momentos distintos?
A verdade é que a Dani tem três narradores: Mercúrio (ela mesma, a mãe e o trabalho), Júpiter (o pai, os relacionamentos e os amigos) e Vênus (as viagens, o estrangeiro, os oráculos e tudo que a sustenta). Cada um deles traz uma perspectiva única, um olhar que se entrelaça com os outros, mas nunca se confunde.
Mercúrio-Dani é movimento. Seu corpo não para, seus pés buscam deslocamentos, por menores que sejam. E, no entanto, há também um interesse profundo pelas raízes. Parece paradoxal, não? Alguém que ama tanto partir também desejar criar um lar. Mas talvez não seja. A casa 4, da ancestralidade, nos fala de onde viemos e para onde voltaremos. Uma alma errante precisa conhecer suas raízes para saber de onde partiu e para onde retornará. Mercúrio-Dani será a voz que narrará a volta para casa, o reencontro com o ponto de partida. Será ela quem fará o balanço da existência, separará os detalhes e plantará novas sementes.
Júpiter, por sua vez, vê a vida da Dani através das lentes dos relacionamentos. Para ele, ela ocupa a casa 10, o ápice do céu, o lugar do sucesso e do reconhecimento. Sua narrativa é tingida de admiração. Mercúrio está na 10 de Júpiter, no ponto mais alto, onde tudo brilha com maior intensidade.
Mercúrio e Júpiter falam daquilo que é familiar. Mercúrio é a voz que narra o cotidiano, os detalhes miúdos, o trabalho, a busca por reconhecimento e o retorno às raízes. Júpiter, por sua vez, vê a vida da Dani através das lentes dos relacionamentos. Juntos, Mercúrio e Júpiter contam daquilo que é conhecido, seguro, previsível — o chão que se pisa, as pessoas que se ama, os laços que se fortalecem.
E Vênus? Vênus fala do estrangeiro. Do que é estranho, distante, desconhecido. Vênus é a voz que narra as viagens, os encontros com o diferente, os estranhamentos que nos transformam. É ela quem conduz a Dani a lugares distantes, a culturas que desafiam suas certezas, a experiências que a fazem crescer. Vênus não entra na história — Vênus já está nela. É o agora. E aqui me surpreendo com a literalidade da Astrologia, pois Vênus é o planeta da concórdia, da harmonia, das artes, dos amores e da beleza. E não é surpreendente que alguém sob sua influência queira se ver retratada em uma sessão fotográfica? Há algo mais venusiano do que isso? Quando propus unir Astrologia e Fotografia, a Dani foi a primeira Vênus a erguer a mão. “Quero fotos artísticas e autênticas,” disse. E faz todo sentido: estamos falando de uma Vênus de fogo, uma Vênus em Sagitário, uma Vênus cavalar, que não teme se expor, que ama a liberdade e desafia convenções.
Das especiarias, gosto da canela: intensa, amadeirada, quente. Esta especiaria, uma das mais antigas do mundo, ingrediente de óleos, unções, perfumes e condimentos, motivou exploradores europeus a partirem para o Novo Mundo em sua busca.
Impossível ficar alheio ao seu olor ativo, abundante e inconfundível, ao seu sabor ardente, doce e delicadamente cítrico. Quem prova do seu travo agudo é imediatamente arrebatado por vontades primitivas. Se fosse pessoa, seria daquelas de dormir com o nariz grudado na pele, sentindo seu aroma adocicado e ligeiramente picante. Uma pitada dessa gente já basta para marcar presença. Chegam com aquele ar misterioso do oriente, aquela tez solar, suavemente acastanhada, o olhar marcante e despretensioso… E por onde passam realçam o sabor do momento. Pessoas sabor canela despertam o desejo de cruzar fronteiras e se lançar ao desconhecido em busca do encontro.
Escrever é como assistir ao nascer do sol na praia: a princípio, nada há além da escuridão. Pisamos em terreno incerto, tentamos adivinhar o caminho, apostamos em uma direção, sem muita certeza de que queremos mesmo caminhar até a praia — a cama quentinha parecia tão mais confortável… Mas, assim que nossos pés encontram a areia fria, o lampejo de inspiração, o pensamento adormecido, desperta. O corpo se põe alerta. E cada promessa de luz que se avizinha é como uma ideia que nasce e traz consigo a próxima, em cadeia, até que o próprio sol desponte no horizonte. E, então, a visão alcança mais e além.
Já podemos perceber as cores da manhã mudando rapidamente, os pensamentos flutuando como o reflexo da luz sobre as ondas calmas. O som que se ouve agora começa a fazer sentido: Inunda o corpo de prazer, e o espírito nos sussurra vivamente seus quereres.
Um fio de luz basta para que o corpo entenda a beleza do milagre que está por vir. Um fio de inspiração basta para que o pensamento encontre o caminho para a criatividade.