São Paulo, 27 de Agosto de 2023
Raul querido,
Estou aqui na casa da mãe organizando o nosso encontro de hoje e resolvi fazer, eu mesmo, a salada de frutas para a sobremesa. A Rita mandou as laranjas, a Olga, as bananas, eu trouxe um abacaxi e a mãe já tinha aqui os morangos e o mamão. Você ficou de enviar as maçãs, lembra? Pois então, só encontrei uma maçã, bastante prejudicada, numa sacolinha que a mãe disse que você mandou entregar. Tenho certeza de que só pode ter havido algum engano, meu irmão, pois não quero crer que você, com uma macieira carregada no jardim, tenha enviado somente uma maçã de qualidade duvidosa para o nosso almoço. Sei que temos nossas diferenças enquanto família, mas esses encontros são importantes para a mãe e eu os vejo, também, como oportunidades de nos reaproximarmos.
Veja, não estou pedindo que me envie as suas melhores maçãs, mas que selecione algumas com um pouco mais de cuidado, com um mínimo de consideração. Nem é a quantidade que importa mais, mas a qualidade daquilo que você entrega. Você sabe que a mãe adora maçãs. Por que, então, negar aquilo que de você é tão abundante? Tem medo de não haver retribuição? É um risco que se corre, meu irmão. Mas, negando o que em você transborda, corre-se o risco de nunca provar outra fruta e passar uma existência inteira sabendo somente a maçã.
Deixe de ranhetice. Te espero mais cedo, com as maçãs e disposto a me ajudar a fazer a salada.
Hugo