São Paulo, 08 de Abril de 2023

Vênus Conjunta a Algol

Euríale, querida

Fui ingênua ao acreditar nas boas intenções de Sérgio. Deixei toda uma vida, família, projetos para trás para acompanhá-lo, acreditando que nosso amor era tão profundo que faríamos qualquer sacrifício para permanecermos juntos. EU faria. Ele, nem tanto. Dois dias após desembarcamos aqui, ele me disse que às vezes se sente paralisado com a forma com que eu o olho. Irmã, eu sempre olhei para ele do mesmo jeito, o que mudou? Um olhar apaixonado é paralisante? Eu já entendi o que mudou: o que mudou foi o sentimento dele. Deve estar inseguro, se perguntando se fizemos a coisa certa, talvez achando que nos precipitamos, que agora não tem volta… Já busquei tantas justificativas… Eu também tenho medo, será que ele não vê?

E ele não fala, mas se distancia a cada dia. Meus esforços em tentar uma conversa são infrutíferos. Ele diz que não há com o que se preocupar, que está tudo bem, que eu estou com caraminholas na cabeça. Caraminholas! Se ele soubesse o que trago na cabeça! 

O fato, minha irmã, é que eu já vi esse filme antes e já estou prevendo o final. Se não houver um plot twist surpreendente nos próximos dias, não vou esperar pela parte triste e desoladora porque nessa parte, quem sofre a violência sou eu, quem tem a cabeça cortada sou eu. Se eu perceber qualquer micro violência da parte dele, não vou esperar a cartela do “the end” subir. Transformo esse longa em curta metragem e volto para minha terra.

Mando notícias nos próximos dias, irmã.

Com carinho

Medusa