São Paulo, 10 de dezembro de 2023
Senhor Juíz,
A quem servem as leis? Por quem foram escritas? A quem batem continência? Por que foram escritas? Aqui, no exílio, invisível a elas e à margem delas, tenho tido tempo para refletir um pouco. A quem posso ou devo recorrer neste lugar onde sou estrangeira? Existe alguém por mim? Minha voz é a voz silenciada da rua. É a voz dos esquecidos, dos não convencionais, dos que não são nem considerados…
A verdade é que me sinto e sei que estou desamparada, sem ter a quem recorrer e à mercê daqueles que fazem as leis e detém o poder. A única coisa que me resta é aguardar, resignada, que alguém, em um lampejo de bondade, perceba a minha presença. Mas estão todos tão ocupados, não é mesmo? Todos com seus afazeres muito mais importantes do que qualquer problema que tenha uma imigrante.
Porque esses que mandam e desmandam só sentem o cheiro da m* quando a têm pela cintura. E, enquanto a minha questão for apenas um caso isolado, morrerei e sequer tomarão conhecimento. Perceba, meritíssimo, sua simpatia por minha pessoa de pouco me adianta. Sim, mesmo do outro lado do oceano, percebo que me tem compaixão, porém, sua compaixão, se não estiver acompanhada de uma atitude concreta, de nada me serve.
Resilientemente,
Esmeralda

