Quando os Astros Antecipam a Dor Coletiva
Na madrugada de 14 de março de 2025, o Brasil testemunhou um Eclipse Lunar Total em Virgem – a chamada “Lua de Sangue” que tingiu nosso satélite de vermelho por 65 minutos. Enquanto milhões de pessoas admiravam o fenômeno celeste, poucos perceberam que o céu estava escrevendo um alerta urgente sobre uma das crises humanitárias mais graves do nosso tempo: a violência contra a mulher.
Ao analisar cuidadosamente o mapa astrológico daquele momento, identificamos configurações alarmantes que apontavam para um período crítico envolvendo mulheres trabalhadoras, profissionais da saúde, educadoras e jornalistas. Infelizmente, os dados recentes – especialmente os casos chocantes do final de novembro de 2025 – confirmam que o céu não estava apenas “se expressando”: estava alertando.
O Mapa Astrológico do Eclipse: Uma Leitura Técnica
O eclipse lunar de 14 de março ocorreu com uma configuração planetária extremamente significativa:

A Face de Mercúrio e a Casa 3
O eclipse aconteceu na face de Mercúrio, com Mercúrio posicionado na Casa 3 (comunicação, deslocamentos, cotidiano), conjunto a Vênus retrógrada. Essa conjunção sinalizava tensões relacionadas a:
- Mulheres na mídia e comunicação
- Debates sobre direitos femininos
- Polêmicas envolvendo figuras femininas públicas
Vênus Retrógrada em Áries: O Retrocesso Anunciado
Vênus retrógrada em Áries é uma configuração sensível para questões femininas. Vênus representa o princípio feminino, as relações, os valores e a diplomacia. Quando retrógrada em Áries (signo regido por Marte, planeta da guerra e conflitos), indica:
- Retrocesso em conquistas: Revisão ou perda de direitos femininos
- Exposição pública negativa: Escândalos ou ataques à imagem de mulheres influentes
- Violência de gênero: Aumento das agressões, especialmente com a energia de Marte ativa no mapa
Saturno em Oposição ao Eclipse: Privações Estruturais
Saturno, o planeta das restrições, estava na Casa 2 (economia, recursos, valores) em oposição direta ao eclipse. Essa configuração apontava para:
- Restrições financeiras afetando mulheres desproporcionalmente
- Cortes em benefícios sociais e políticas públicas
- Aumento da desigualdade de gênero no mercado de trabalho
Marte na Casa 6: Violência no Trabalho e na Saúde
Todos os planetas, exceto Marte e a Lua, estavam sob a face de Marte, que se encontrava no signo de sua queda, Câncer, na Casa 6 (trabalho, saúde, rotina). Esta é uma posição crítica que indicava:
- Problemas de saúde pública afetando mulheres
- Condições precárias no ambiente de trabalho feminino
- Violência no contexto laboral
- Possíveis greves ou conflitos em categorias predominantemente femininas
Virgem: O Signo da Mulher Trabalhadora
Virgem, signo onde ocorreu o eclipse, é um signo feminino, humano e ligado ao trabalho, saúde e conhecimento. O alerta se direcionava especificamente a mulheres trabalhadoras, profissionais da saúde, educadoras, assistentes sociais e jornalistas.
A Trágica Confirmação: Novembro de 2025
Os Últimos Dias: Quando a Violência ficou escancarada
Os últimos dias de novembro de 2025 trouxeram casos que chocaram o país e confirmaram, de forma brutal, as advertências astrológicas:
29 de novembro – São Paulo: Uma mulher de 31 anos teve as pernas amputadas após ser atropelada e arrastada intencionalmente na Marginal Tietê por seu ex-companheiro, Douglas Alves da Silva, 26 anos. O crime ocorreu após ela terminar o relacionamento. A capital paulista bateu recorde histórico de feminicídios em 2025.
21 de novembro – Florianópolis: Catarina Kasten, 31 anos, estudante de mestrado da UFSC, foi estuprada e assassinada na Trilha do Matadeiro enquanto se dirigia para aula de natação. O caso mobilizou todo o país. Catarina era professora e pesquisadora.
Santa Catarina – Novembro inteiro: O estado registrou 9 feminicídios apenas em novembro, o maior número mensal de 2025, tornando-se o mês mais violento do ano.
Os Números Não Mentem
O eclipse alerta para o agravamento da situação:
Feminicídios Batem Recordes Históricos:
- 1.492 feminicídios em 2024 (recorde histórico)
- 718 feminicídios apenas no primeiro semestre de 2025
- Crescimento de 45% nos casos com arma de fogo até agosto/2025
- 10 mulheres mortas por dia no Brasil
Violência Sexual em Níveis Alarmantes:
- 87.545 casos de estupro registrados em 2024 (também recorde)
- 71.892 casos de estupro – média de 196 estupros por dia
- Crescimento de 18,2% nos casos de stalking
- Aumento de 6,3% na violência psicológica
Ambiente Doméstico:
- 80% dos feminicídios cometidos por companheiros ou ex-companheiros
- 64% das agressões ocorreram dentro das residências
- 1.370 dos 3.903 homicídios de mulheres ocorreram no ambiente doméstico
Saturno em oposição – desigualdade estrutural:
- 68,2% das vítimas eram mulheres negras
- 64% das vítimas fatais eram negras
Trabalho e Cotidiano (Marte na Casa 6 em Virgem):
- Uma em cada quatro vítimas de violência doméstica tinha entre 0 e 14 anos
- Mulheres trabalhadoras foram desproporcionalmente afetadas
- Casos envolvendo profissionais da educação e saúde (como Catarina)
A Manosfera: O Combustível Digital da Violência
O Movimento RedPill e a Normalização do Ódio
Um dos fatores mais preocupantes por trás do aumento da violência contra a mulher é a ascensão do movimento RedPill e da chamada “manosfera” – comunidades online que disseminam misoginia estruturada e organizada.
O termo RedPill vem do filme Matrix (dirigido, ironicamente, pelas irmãs transgêneras Lana e Lilly Wachowski), onde o protagonista escolhe entre a pílula azul (permanecer na ilusão) e a vermelha (enxergar a “realidade”). Esses grupos distorceram a metáfora para criar uma narrativa onde homens “acordam” para uma suposta “dominação feminina” e precisam “reconquistar” seu lugar de poder.
O Que Esses Grupos Pregam
Os estudos acadêmicos sobre o movimento RedPill no Brasil revelam um padrão assustador:
Objetificação extrema: Grupos afirmam que mulheres servem apenas para relações sexuais. Uma frase comum entre eles é brutal em sua desumanização.
Demonização da liberdade feminina: Atacam especificamente mães solo, mulheres gordas, mulheres negras, mulheres acima de 30 anos, e qualquer mulher que não se submeta aos padrões que eles estabelecem.
Culpabilização das vítimas: Defendem que mulheres são responsáveis por agressões sexuais que sofrem e que feminicídios são justificáveis quando a mulher “desmoraliza” o homem.
Negação da realidade: Utilizam táticas da extrema-direita para negar dados estatísticos sobre violência de gênero, criando uma realidade paralela onde homens são as “verdadeiras vítimas”.
Níveis de desengajamento: O movimento tem categorias que vão desde rejeitar relacionamentos longos até defender o completo isolamento social de mulheres.
Andrew Tate: O “Padrinho” Global da Misoginia
Andrew Tate, ex-lutador de kickboxing britânico-americano, tornou-se o ícone mundial da manosfera. Com 22 bilhões de visualizações no TikTok, ele influencia milhões de jovens com mensagens como:
- “Mulheres são propriedade dos homens”
- “Mulheres não deveriam dirigir ou sair de casa”
- “Mulheres são responsáveis pelo assédio que sofrem”
Tate está preso na Romênia desde 2022 sob acusações de tráfico humano, estupro, exploração sexual e formação de quadrilha. Autoridades alegam que ele e seu irmão atraíam mulheres com falsas promessas para transformá-las em prostitutas, submetendo pelo menos seis vítimas a abusos físicos e mentais.
Mesmo preso, sua influência continua: um assassino no Reino Unido pesquisou o nome de Andrew Tate antes de matar três mulheres de uma mesma família em 2024.
RedPill no Brasil: Thiago Schutz e a Cultura do Ódio
No Brasil, o caso mais notório é o de Thiago Schutz, conhecido como “Calvo do Campari”, que viralizou em 2023 com vídeos “ensinando” homens a manter postura de “macho alfa”. Ele chegou a ameaçar a atriz Lívia La Gatto de morte (“processo ou bala”) quando ela ironizou seus ensinamentos.
O perfil de Schutz, “Manual Red Pill”, é apenas um dos centenas de canais brasileiros que propagam esses discursos. No Instagram, a hashtag #redpill reúne mais de 1,3 milhão de publicações.
Dados alarmantes:
- 137 canais no YouTube brasileiro propagam ódio contra mulheres
- 3,9 bilhões de visualizações acumuladas nesses canais
- Conteúdos começam com “autoajuda” mas escalam para incitação à violência
A Ligação Com a Violência Real
Pesquisadores que se infiltraram em grupos masculinistas brasileiros no Telegram relatam descobertas aterrorizantes:
- Assassinos são celebrados como heróis: O caso Eloá, onde Lindemberg Alves sequestrou e matou a ex-namorada, é visto como “case de sucesso”
- Feminicídios são justificados: A narrativa é que mulheres “desmoralizam” homens ao terminar relacionamentos
- Massacre de Suzano: Estudos ligam o ataque à escola a influências da teoria RedPill
Professora Lola Aronovich (UFC), que estuda esses grupos há 12 anos, é constantemente ameaçada por masculinistas. Ela confirma: quando esses discursos legitimam violência, homens se sentem autorizados a fazer o que quiserem com mulheres.
Como os Algoritmos Amplificam o Ódio
As plataformas digitais têm responsabilidade direta:
- Algoritmos do YouTube, TikTok e Instagram recompensam conteúdo provocativo, incluindo retórica antifeminista
- Vídeos curtos favorecem ideias simplistas e bloqueiam reflexão crítica
- Influenciadores lucram com a insegurança masculina, vendendo cursos e mentorias
- Jovens entre 12-17 anos são o principal alvo desses conteúdos
A Conexão Astrológica
A ascensão da manosfera conecta-se diretamente com as configurações do eclipse:
Vênus retrógrada em Áries: Retrocesso em direitos femininos e aumento do discurso de ódio online
Mercúrio na Casa 3: Comunicação tóxica, redes sociais como arma de dominação
Marte regendo a face de quase tudo: Agressividade, violência e discurso de guerra entre gêneros
Saturno em oposição: Estruturas opressivas disfarçadas de “ordem natural”
O eclipse não criou esses movimentos, mas amplificou sua influência e expôs suas consequências letais.
A Astrologia Como Ferramenta de Consciência Social
Quando bem estudada, a Astrologia pode ser uma ferramenta poderosa para antecipar crises coletivas e mobilizar a sociedade para a prevenção.
O eclipse de março não “causou” a violência contra a mulher – ele iluminou um problema estrutural que já existia, amplificando-o e trazendo-o à tona de forma inegável. A configuração planetária funcionou como um holofote cósmico direcionado para uma ferida social que insistimos em ignorar.
Por Que Isso Importa?
- Campanhas preventivas poderiam ter sido intensificadas
- Plataformas digitais poderiam ter aumentado a moderação de conteúdo misógino
- Políticas públicas poderiam ter sido reforçadas
- A sociedade poderia ter estado mais vigilante
- Mulheres em situação de risco poderiam ter sido protegidas
- Jovens expostos à manosfera poderiam ter recebido educação crítica
O Que Fazer Agora?
O eclipse de março passou, mas seus efeitos, como podemos perceber, ainda estão ativos.
Como Indivíduos:
- Não se cale: Se você presenciar violência, denuncie
- Ligue 180: Central de Atendimento à Mulher (disponível 24h)
- Apoie mulheres: Esteja disponível para ouvir e ajudar
- Eduque-se: Entenda os sinais de relacionamentos abusivos
- Monitore o que jovens consomem online: Converse sobre os perigos da manosfera
- Denuncie conteúdo misógino: Use as ferramentas de denúncia das plataformas
Como Sociedade:
- Cobre políticas públicas: O Estado precisa agir com urgência
- Regulação de plataformas digitais: Algoritmos que promovem ódio devem ser responsabilizados
- Educação sobre gênero nas escolas: Desconstruir masculinidade tóxica desde cedo
- Desmistifique a Astrologia séria: Ela pode ser aliada na prevenção de crises
- Fortaleça redes de apoio: Mulheres não podem estar sozinhas
- Responsabilize agressores: A impunidade precisa acabar
- Combata a manosfera: Crie contranarrativas educativas para jovens
Para Pais e Educadores:
- Fique atento aos sinais: Jovens que consomem conteúdo RedPill mudam comportamento
- Converse abertamente: Crie espaços seguros para discutir masculinidade saudável
- Questione influenciadores: Ensine pensamento crítico sobre figuras como Andrew Tate
- Promova empatia: Desconstrua a ideia de que dominar é ser “macho”
Reflexão Final
A “Lua de Sangue” de 14 de março não foi apenas um belo fenômeno para fotografar. Foi – e continua sendo – um símbolo do sangue que tem sido derramado todos os dias nas casas, ruas, locais de trabalho e até em trilhas, como em Florianópolis.
Catarina Kasten foi para uma aula de natação e nunca voltou. Uma mulher em São Paulo teve as pernas amputadas por ousar terminar um relacionamento. Nove mulheres morreram em Santa Catarina apenas em novembro. E enquanto isso acontecia, milhões de jovens assistiam vídeos que justificam, normalizam e encorajam exatamente essa violência.
Com 10 mulheres mortas por dia e bilhões de visualizações em conteúdos que pregam ódio, não podemos mais olhar para o céu e ignorar o que ele nos diz. A Astrologia nos oferece uma linguagem para compreender os ciclos de violência e transformação. O movimento RedPill oferece uma linguagem para perpetuar essa violência.
Cabe a nós decidir qual linguagem vai prevalecer.
Vênus retrógrada já passou. Marte saiu da sua queda. Mas os efeitos permanecem, e novos ciclos se aproximam.
O próximo eclipse está chegando. Vamos estar atentos desta vez?
Em breve eu, Edna, e Carol faremos uma oficina para analisar os eclipses do ano de 2026. Fiquem atentos.
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher (24h, gratuito e sigiloso)
Em caso de emergência, ligue 190 (Polícia Militar)
Para denunciar conteúdo misógino online: use as ferramentas de denúncia das plataformas
SaferNet Brasil: new.safernet.org.br
Fontes e Referências
Dados Estatísticos:
- Atlas da Violência 2025 (Ipea/Fórum Brasileiro de Segurança Pública)
- Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025 (Ministério das Mulheres)
- Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025
- Mapa Nacional da Violência de Gênero (Observatório da Mulher Contra a Violência/Senado)
- Instituto Fogo Cruzado
- Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan/MS)
Casos Recentes (Novembro 2025):
- CNN Brasil – Caso Marginal Tietê e recorde de feminicídios em SP
- ND Mais, NSC Total – Caso Catarina Kasten em Florianópolis
- ND Mais – Recorde de feminicídios em Santa Catarina (novembro/2025)
Movimento RedPill e Manosfera:
- Agência Brasil – “Grupos masculinistas propagam misoginia e ameaçam mulheres na internet”
- Revista Humanidades & Inovação – “Masculinidades hegemônicas e violência contra mulheres nas mídias: críticas ao movimento RedPill”
- Jornal de Brasília – “(I)Rational Male: reflexões sobre o movimento da RedPill”
- Carta Capital – “Como os red pills espalham ódio contra as mulheres nas redes sociais”
- Revista Contemporânea – “Red Pill e a Violência Contra as Mulheres”
- Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais / NetLab-UFRJ
- Estudo sobre Autoritarismo de Leipzig 2024 (Alemanha)
- Série “Adolescência” (Netflix, 2025) – representação da radicalização juvenil
Andrew Tate:
- Gazeta Brasil – Andrew Tate e influência sobre jovens
- Revista Fórum – Perfil e acusações criminais
- Sky News e BBC – Entrevistas sobre impacto da manosfera
Sobre o Eclipse Lunar de 14 de Março de 2025: Eclipse Lunar Total em Virgem (24°), visível em todo o Brasil entre 03h26 e 04h31 (horário de Brasília), com duração total do fenômeno de aproximadamente 6 horas. A “Lua de Sangue” tingiu o satélite de vermelho por 65 minutos durante a totalidade do eclipse.


