Lua em Virgem oposta a Saturno em Peixes
Às minhas ancestrais
Mamãe me deixou, como herança, aquele vaso de cerâmica indígena lindo que havia sido da minha avó, que o recebeu de sua mãe, que o recebeu da mãe dela, que o recebeu… Vocês são tantas, as que vieram antes.
Desde que recebi o vaso, tenho cuidado dele com muito carinho, assim como prometi à mamãe. A cerâmica antiga sempre precisou de reparos constantes. Às vezes, por causa da ação do próprio tempo, algumas lascas iam se desprendendo e eu, rapidamente, tratava de colocá-las no lugar. Como isso acontecia de maneira imprevista, me vi obrigada a fazer-lhe uma vigilância constante. Apesar de ser um vaso muito pesado, eu o levava comigo para todos os lugares. E como alguns lugares eram bastante insalubres para uma cerâmica antiga, com muito sol ou muita umidade, comecei a abster-me de frequentá-los. Aos amigos, contei uma história de que meu apartamento estava em reforma, para que não viessem me visitar. Não seria conveniente que entrassem em contato com o vaso. Meu medo era de que alguém, num movimento imprudente, o quebrasse. O nosso vaso tão frágil…
Acontece que hoje, pela manhã, por descuido, enquanto tirava a louça do café, a saia da minha camisola enroscou-se nele. E ele, numa espécie de malabarismo, se espatifou no chão. Virou pó. Sem cacos ou lascas, somente pó.
Passado aquele momento de choque, em que a alma paira sobre o corpo para avaliar o estrago, varri o chão resilientemente e liguei para as meninas. Contei a elas que não herdarão o vaso.
Agora, vou à praia…
Com carinho,
Edna

