São Paulo, 02 de Maio de 2023

Lua cresce em Libra

Meu amor,

Há dias, como hoje, em que apesar da motivação do corpo, que não aguenta ficar mais na cama, a alma não deseja se mover. O sentimento é de solidão e desesperança. O caminho está deserto, não se avista viva alma desde muitos passos atrás e eu não gosto de caminhar sozinha, não gosto de não ter com quem conversar. Não ter com quem conversar é estar obrigada a encarar os meus próprios pensamentos, é olhar para minha própria miséria, é colocar toda a minha existência nos pratos de uma balança para tentar equilibrá-los. Olhar para si mesmo é muito assustador. Diga-me, quem sou eu para você? Será que o que você enxerga em mim é sobre mim mesmo ou o que você enxerga em mim é sobre você? Se somos seres relacionais e, sem um espelho, não somos capazes de nos avistar, então, os olhos do outro é que são nossos espelhos. Eu me vejo nos seus olhos e você nos meus. E no caminho deserto? Onde estão os espelhos? Será esse o motivo da insegurança, não poder se enxergar através dos olhos de alguém? Ver-se é dar conta de si e perceber que, apesar de nos quererem iguais, somos distintos. Os espelhos servem para podermos nos vigiar, para não sermos distintos demais. Existe um limite que não deve ser extrapolado. Quem se distingue demais, rapidamente, é repreendido e aconselhado a voltar para o gabarito. Não há tolerância para o extremamente diferente. O diferente é uma ameaça. Só que o problema – veja só a minha perdição – é que eu tenho dificuldades em seguir conselhos e, por isso, costumo pagar um preço alto por insistir em ser quem eu realmente sou. Entende, agora, por que não gosto de caminhar sozinha? 

Venha em meu socorro, te suplico, meu amor

Sua,

Astilbe

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