Eclipse Lunar em Escorpião
Por favor, não leia esta carta em voz alta. Mas, se for obrigado a fazê-lo, sussurre. Não queremos acordar quem dorme. Daqui a pouco, as luzes serão apagadas e eu tenho medo do escuro. Não porque eu ache que algo pode entrar ou me atacar. Temo pelo que pode escapar. Há algo que me acompanha pelas sombras. Não sei o que é, mas sinto a sua presença. É algo que se agita em mim antes mesmo que eu pense em me indignar, que me queima antes mesmo que eu me assuste, que me rasga antes que eu me enfureça. Vivo em estado de alerta e vigília constante. Nunca deixei que esse “algo” escapasse, apesar de seus intentos, e não sei quais seriam as consequências, caso acontecesse.
Tenho pra mim que esse “algo” habita no mais profundo do meu ser, embaixo de pedras ancestrais, em um lugar animal, primordial. Talvez seja feito de muitas poeiras varridas para debaixo do tapete, de frustrações, de arrependimentos, mágoas, choros estancados, solidão, abandono, rancor e desesperança que foram sendo acumulados de geração em geração.
Para onde vão os sentimentos que calamos? Onde guardamos o que não cabe dentro? Será que tudo isso serve de alimento para esse “algo” que cresce?
Em dias de apagão, nossas defesas ficam vulneráveis, nossos sentidos nos confundem. É quando fica escuro que a gente enxerga melhor o que tem dentro. Vigiem.
L.

