São Paulo, 06 de Agosto de 2023
Cara humana insolente,
Não me interessa se você mora em um palácio com móveis e objetos dourados e cafonas. Tampouco me importa que as mesas e aparadores sejam feitos do melhor mármore que existe. Não quero saber de veludos, porcelanas e cristais. Guarde tudo isso que você chama de riqueza para si mesma.
Não estou interessada em ser transferida de um lugar para outro, muito menos em ser manipulada conforme os desejos alheios. Prefiro ser deixada em paz no meu próprio espaço, onde posso crescer sem a sua “bondade” e “boa intenção”. Não preciso do seu cuidado, muito menos da sua compaixão.
Preste atenção ao que vou dizer: se você ousar me tocar, sentirá a ardência implacável de meus espinhos. E se, ainda assim, insistir em me levar para sua casa, me vingarei do jeito mais cruel conhecido: desistirei de viver. Nós, do gênero Adromiscus Cristatus Furiosus, somos conhecidas pela capacidade de abreviarmos nossas próprias vidas em ambientes hostis. E não se engane: morrerei se você me der água, poque será água demais; se não me der água, morrerei por ser de menos. Se me colocar ao sol, queimarei, à sombra, definharei. Não existirá condição que possa me convencer a viver e você, ao contrário, carregará a culpa pela minha morte.
Sugiro, portanto, que me deixe em paz, no habitat que escolhi para mim: a natureza. É a ela que pertenço. Ou, então, procure alguma espécie de planta mais “amigável”, afinal, não me chamam de Suculenta Coração Sangrento à toa.
Sem mais.

