São Paulo, 07 de Novembro de 2023
Novo amor,
Cheguei. Parada à porta, respirei fundo uma última vez. Me lembrei do longo caminho percorrido, da poeira da estrada, das noites frias e solitárias… Bati… Como a porta estava apenas encostada, fui entrando. Percebi, pela sala arrumada, que me esperava. Tão bom encontrar tudo limpo e organizado, um perfume de tempo novo…
Meus pés se afundaram no tapete burgundy macio. E, enquanto as almofadas de seda que habitam o sofá me acolhem e me afagam, eu penso “sim, é aqui.” Atrás de mim, a porta continua aberta. Te peço: não a feche. Portas fechadas escurecem o ambiente, criam pontos de umidade, deixam o ar pesado e malcheiroso .
Se a porta for daquelas que têm trancas, sobretudo as pesadas, então, são piores: nesses casos, o bolor logo se instala, o ar perfumado se torna fétido e as paredes, sem demora, sangram rancores verdes e gosmentos. Você percebe, novo amor, o quão tóxica pode ser uma porta, uma barreira? Não, deixe-a aberta. Pois, enquanto estiver aberta, saberei que permaneço por vontade.
Sua,
Josephine

