São Paulo, 08 de Outubro de 2023
Pina, meu amor,
Cheguei ontem ao hotel, meu corpo ardendo de desejo, achando que te encontraria hoje, mas me informaram que você partiu. Corri para te encontrar, avistei-a de longe, mas não fui capaz de te alcançar. Por que partir assim? Não sabia que eu viria? Nem um bilhete, nem um telefonema, nem uma explicação? Parece mesmo que te perdi. Acabaram-se nossas noites apaixonadas? Nossas conversas entusiasmadas, nossos passeios incríveis?
Uma pena terminar assim. Daqui onde estou, não te vejo e não te sinto. Me disseram que você está em busca de algo novo, mais razoável, previsível, incolor, insípido, talvez um amor organizado, regrado, limpinho, asséptico, com hora para começar e hora para terminar…
Coisa que não posso dar, não é mesmo? Pois meus sentimentos, você sabe, são puro instinto de fera, carnais e suculentos, amor para todos os sentidos, sem pudor e sem vergonha. Não sei amar pouco, não sei entregar pouco. Ou me lambuzo, ou nem começo. Essa coisa de fazer amor sem transpirar, não dá pra mim. Não sei e não quero me conter.
Mas, quer saber? É isso mesmo que você procura? Então, espero que encontre essa frieza e secura que está procurando e que, de alguma maneira, seja feliz assim. Quem sabe, um dia, nossos caminhos se cruzem novamente e, talvez, eu possa entender o que aconteceu. Meus sentimentos não mudaram, tampouco mudou meu amor-próprio.
Adeus.
Bárbara

