São Paulo, 13 de Novembro de 2023
Jorge,
Agradeço por me receber de forma tão hospitaleira em seus domínios e, também, por estar ciente do quão difícil esta situação é para mim. Os últimos dias, confesso, têm sido desconcertantes e desesperadores. Andei aos tropeços, fui ferida, senti-me triste e intoxicada. Apesar disso, é reconfortante reconhecer em você (alguém em quem eu jamais pensaria) um ombro amigo. Porque é difícil, Jorge, quando estamos no auge da aflição, distinguir entre o certo e o errado, entre o bom e o mau. E sinto que estive buscando leite na casa do carneiro, ou seria melhor dizer, na casa do escorpião.
Em momentos de agonia, nos deixamos levar pelas respostas fáceis, por aquilo que parece nos aliviar o fardo rapidamente, mesmo que a intuição nos alerte de que algo parece errado. Nesses momentos, vamos a lugares errados em busca de coisas erradas, porque a única coisa que importa é aliviar a dor. Uma pausa para um respiro e não nos jogaríamos do precipício em busca do voo da liberdade. Porque as asas, Jorge, só rebentam quando temos os pés firmes no chão. Isso é certo.
E por estar certa de que vou me recuperar, despeço-me, pois sinto que devo continuar minha jornada. Já sinto um fio de vitalidade me alcançando e quero que ela me encontre caminhando. Obrigada por ser o melhor amigo que pôde.
Com afeto,
Berenice

