São Paulo, 15 de Março de 2023

Lua em Sagitário, Marte em Gêmeos – Oposição

Marcinho querido,

Venho falar sobre o nosso encontro de horas atrás e sobre eu ter saído repentinamente, sem explicação. Pensei muito se deveria escrever esta carta e o faço, não por você, mas por mim. Você sabe que sou uma mulher livre. Se assim não fosse, não suportaria a minha rotina de contatos e viagens. E, assim como prezo minha liberdade, defendo que todos a tenham. Nós dois nunca nos fizemos promessas e, tampouco, acordamos que tínhamos algum tipo de relação que não a de amantes ocasionais. Eu gosto da sua companhia e acredito que você goste da minha. E está bom assim. Nunca pedi mais do que isso. 

Portanto, achei desnecessária e desrespeitosa a cena armada em sua cozinha. Sou uma mulher vivida, Marcio, sei muito bem interpretar um recado. E sei, também, identificar um covarde quando estou diante dele.

Duas taças manchadas de vinho tinto, esquecidas sobre a pia, certamente contam histórias melhores do que contaria uma só, não é mesmo? Quando cheguei em casa, me pus a pensá-las: de que sabor seriam, o vinho e as histórias? Mas não cheguei a nenhuma conclusão, pois, agora, me parecem melancólicas e tristes, as taças usadas, sujas de memórias que não chegarão a ser, de promessas que serão lavadas pela manhã, escorridas pelo ralo e fingidas nunca terem sido.

E então, de banho tomado, aguardarão, transparentes, fingindo alegria, pela próxima oportunidade de serem receptáculos de sentimentos. Mas, se tivessem alma, certamente, um dia, cansariam-se e atirariam-se ao chão na primeira oportunidade, espatifando amarguras e ferindo, com seus cacos afiados, as mãos de quem se aproximasse. Contudo, seu triste fim, embora dramático, seria inútil, pois outro cálice altivo e ainda mais transparente ocuparia o seu lugar no momento seguinte, como se nada…

Luamar

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