São Paulo, 17 de Outubro de 2023
Querido primo,
Como estão as coisas por aí? Faz tempo que não tenho notícias de vocês. Eu também estive um pouco ocupada ultimamente. Não que eu quisesse estar, mas não foi por minha escolha. Sabe, Marcos, eu estive no fundo do poço. Não falei nada antes, porque nem eu mesma sei como é que fui parar lá. A sensação que tenho é de que se apagaram as luzes e eu, atordoada, sem perceber o poço, caí lá dentro. Como poderia fazer qualquer coisa naquela situação? Nunca me senti tão sozinha…
E eu pensava em vocês, aí tão longe, e eu com tanta saudade. Passei dias encarando o invisível, conversando com ele. Tanto que até me pareceu que ele me ouvia e me acolhia. Parece que, às vezes, precisamos mesmo de um poço para podermos ouvir nossas emoções. Depois de alguns dias naquele lugar, o invisível me contou que a palavra emoção quer dizer “colocar em movimento” e que estava na hora de eu procurar uma saída.
Sabe, Marcos, quanto mais personificamos o invisível, mais profunda se torna nossa relação com ele. Aprofundar essa relação foi o que me deu condições de sair daquele buraco. Saio de lá depurada. Só trago comigo o que me é leve. As sombras, angústias e tristezas, deixei para trás. Enquanto me aqueço, escrevo esta carta para avisá-lo que em breve chegarei para visitá-los. Sinto que não quero mais perder tempo de vida. A partir de agora, aproveitarei cada minuto em aventuras, viagens e em companhia dos meus.
Morta de saudades de todos,
Agda

