São Paulo, 24 de Agosto de 2023
Marga querida,
Nós temos a obrigação de desagradar a certas pessoas. Eu sei que pode parecer duro e insensível, mas é a mais pura verdade. Essa coisa de tentar ser agradável com todo mundo acaba é por nos machucar. Falo isso, minha amiga, pensando nessa sua relação com o Dimas.
Daqui de fora, talvez de um lugar privilegiado, percebo que você dá muito e recebe muito pouco. Em tempos de afetos solúveis e instantâneos, em que os homens estão acostumados a receber muito e dar menos do que o mínimo, é preciso saber a hora de desistir.
Vejo o quanto você se esforçou para que esse relacionamento desse certo, o quanto de espaço você abriu na sua vida para encaixar outra vida, o quanto você está cansada, minha amiga, fisicamente cansada, pois tem carregado, sozinha, a responsabilidade por “dar certo”.
É preciso entender que devemos desistir de algumas pessoas. Simples assim. Porque nem todo amigo vai te apoiar no momento que você mais precisa, nem todo pai e mãe amam incondicionalmente, nem todo companheiro está nessa por inteiro. E, algumas vezes, esse pouco que a gente recebe é o máximo que a pessoa sabe, ou está disposta a dar. Para outras, é mau caratismo mesmo, e disfarçado de ingenuidade. Em qualquer dos casos, ficar significa aceitar o pouco, aceitar o nada. E você merece mais.
Enquanto nós aceitarmos esse mínimo como suficiente, os homens continuarão se beneficiando de um sistema que sobrecarrega e escraviza mulheres.
Eu sei que você sabe de tudo isso minha amiga, estou aqui só para lembrar a você porque te amo.
Eunice