São Paulo, 25 de Junho de 2023

Lua em quadratura com Mercúrio

Querido amigo poeta,

A vida acontece é nas oposições e nas quadraturas, pois são as situações difíceis que nos fazem agir, são os problemas que nos tornam criativos, são os tropeços que nos obrigam a mudar a rota. Imagine que triste seria uma vida sem desafios, completamente morna, sem nenhum motivo para deixar a inércia? Os corpos tendem à inércia, você sabe. O problema é que a inércia absoluta é a morte.

É preciso um mínimo de desconforto para que nos sintamos vivos. É preciso o frio para que valorizemos o aconchego de uma lareira, é preciso aridez para que admiremos a tempestade e é preciso a escuridão para reconhecermos o encanto da lua.

Às vezes, temos a impressão de que a situação é incontornável, de que amar novamente será impossível ou de que os sonhos certamente morreram. Mas eu garanto, meu amigo, que qualquer situação é temporária e, com todo respeito à sua dor, que sorte a nossa ter você para traduzir todos estes sentimentos. Porque todos nós, poetas ou não, somos atravessados pelas mesmas vivências, mas só você, com toda a sua destreza e profundidade, é capaz de traduzir em versos o que nós só conhecemos dentro do peito.

Por isso, amigo, chore o quanto precisar, mas escreva. Deixe que o papel carregue um tanto da sua dor e transforme o que te transborda em memória, em arte, em acolhimento para quem sente o mesmo. E se, depois disso, ainda restar outro tanto de dor, divida-a comigo. Você não está só.

Sua amiga,

Edna

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