Gente sabor canela

Das especiarias, gosto da canela: intensa, amadeirada, quente.
Esta especiaria, uma das mais antigas do mundo, ingrediente de óleos, unções, perfumes e condimentos, motivou exploradores europeus a partirem para o Novo Mundo em sua busca.

Impossível ficar alheio ao seu olor ativo, abundante e inconfundível, ao seu sabor ardente, doce e delicadamente cítrico. Quem prova do seu travo agudo é imediatamente arrebatado por vontades primitivas.
Se fosse pessoa, seria daquelas de dormir com o nariz grudado na pele, sentindo seu aroma adocicado e ligeiramente picante. Uma pitada dessa gente já basta para marcar presença. Chegam com aquele ar misterioso do oriente, aquela tez solar, suavemente acastanhada, o olhar marcante e despretensioso… E por onde passam realçam o sabor do momento.
Pessoas sabor canela despertam o desejo de cruzar fronteiras e se lançar ao desconhecido em busca do encontro.

A escrita

Escrever é como assistir ao nascer do sol na praia: a princípio, nada há além da escuridão. Pisamos em terreno incerto, tentamos adivinhar o caminho, apostamos em uma direção, sem muita certeza de que queremos mesmo caminhar até a praia — a cama quentinha parecia tão mais confortável… Mas, assim que nossos pés encontram a areia fria, o lampejo de inspiração, o pensamento adormecido, desperta. O corpo se põe alerta. E cada promessa de luz que se avizinha é como uma ideia que nasce e traz consigo a próxima, em cadeia, até que o próprio sol desponte no horizonte. E, então, a visão alcança mais e além.

Já podemos perceber as cores da manhã mudando rapidamente, os pensamentos flutuando como o reflexo da luz sobre as ondas calmas. O som que se ouve agora começa a fazer sentido: Inunda o corpo de prazer, e o espírito nos sussurra vivamente seus quereres.

Um fio de luz basta para que o corpo entenda a beleza do milagre que está por vir. Um fio de inspiração basta para que o pensamento encontre o caminho para a criatividade.