Lua em Aquário, Vênus em Leão: Oposição
Vilma,
Peguei uma gripe fortíssima. Dessas que a gente leva anos para se recuperar, sabe? O corpo todo padece: meus pés tropeçam e as pernas tremem, fraquejam, mal sustentam o corpo. De tempos em tempos é preciso parar, encostar em algo, respirar fundo, trazer o pensamento de volta ao lugar e aguardar a lipotimia passar.
No abdômen, espasmos e agitação. Uma sensação de urgência que desconcentra, desconcerta. O peito sufoca e, mesmo que a respiração seja profunda e cadenciada, o ar é insuficiente. O coração dispara do nada: sinto as batidas tão fortes que tenho a impressão de que um espectador mais atento conseguiria percebê-las através da minha camisa, que pulsa no mesmo ritmo.
Às vezes, me sobe um calafrio que me retesa os músculos, me arrepia a pele e me faz quase perder os sentidos. Sou refém de suspiros que chegam de propósito em momentos inadequados. E, na sequência, o corpo arde, de dentro para fora e de baixo para cima.
O olfato, por incrível que pareça, está aguçadíssimo: cheiros e lembranças de cheiros que me enchem de água a boca e nublam a minha visão. Engraçado, Vilma, que esses cheiros me lembram você, e só eu os sinto.
E eles, os cheiros, vêm acompanhados da necessidade de satisfazer o paladar: Me demoro apreciando os aromas, as texturas, os gostos. E me pego lambendo lábios e dedos como que para esgotar os sabores.
E ouço uma voz, Vilma, a sua voz, que sussurra em meus ouvidos, tão real que posso te sentir o calor do hálito. Um sussurro que me atiça as partes inferiores e me tira a razão.
São delírios que me desconectam da realidade e prejudicam meu desempenho no trabalho. Não posso mais suportar: já tomei paracetamol, antiinflamatório, antihistamínico, descongestionante; já fiz reza braba e macumba forte. Nada adianta, Vilma.
É realmente uma gripe fortíssima.
Lallo

